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Aliança de Israel com países árabes está por trás de protesto na Unicamp

Por Eugenio Goussinsky

Desde os anos 1990, em meio à turbulência política, revoltas palestinas e tentativas diplomáticas de se chegar a um acordo de paz, Israel, com um governo de união nacional, iniciava uma política de intensificar sua inserção no cenário mundial de tecnologia. (Na foto, alunos na Universidade Hebraica de Jerusalém).

E, hoje investindo cerca de 4,2% do PIB no setor de Ciência e Tecnologia, o país encontrou um caminho consistente na busca do entendimento com nações que antes eram inimigas e inserção no cenário internacional.

O desenvolvimento tecnológico levou Israel a ser o país com maior número de startups per capita do mundo, com uma média de uma startup para cada 1,8 mil habitantes (segundo o StartSe, 2019).

E foi nesses anos 90 que houve um grande impulso para este avanço, quando o governo estabeleceu um método de incubação, investindo para as startups sem ter uma participação nelas.

Com o tempo, as universidades passaram a ser importantes parceiras neste novo cenário, que possibilitou Israel alcançar a paz com países antes inimigos, como os Emirados Árabes e o Bahrein, grandes aliados da Arábia Saudita, outro país que se aproximou de Israel.

Democráticas, as universidades tiveram papel preponderante nesse processo. E com a chancela da Arábia, os Emirados acertaram com Israel acordos de cooperação em áreas como finanças, energia, segurança, tecnologia e segurança hídrica. São tecnologias que estão abrindo portas para Israel no mundo.

“O encontro aqui em Ajman entre nossos pesquisadores e pesquisadores da Faculdade de Medicina de Azrieli foi incrivelmente emocionante, assim como a assinatura deste acordo, que finalmente nos permitirá seguir em frente com nossos ambiciosos planos de colaboração. Esperamos por este momento por muito tempo e, assim que os Acordos de Abraão (de 2020) foram assinados, nossa administração aproveitou a chance de uma cooperação mutuamente benéfica com nossos colegas em Israel. Esperamos visitar Israel em breve e que a administração da Universidade Bar-Ilan também nos visite aqui”, afirmou o reitor da GMU (Gulf Medical University), sobre parceria com a Faculdade Azrieli, da Universidade Bar-ilan, de Israel.

De acordo com a BBC, o comércio bilateral não petrolífero entre Israel e Emirados chegou a mais de US$ 2,5 bilhões em 2022. A expectativa dos Emirados Árabes Unidos é esse comércio aumente para US$ 10 bilhões até 2030.

“A política israelense é definitivamente difícil e há muitos altos e baixos. Mas o Acordo de Abraão é uma decisão estratégica e continuará apesar do que acontecer em Israel”, disse Abdulkhaleq Abdulla, comentarista político nos Emirados Árabes Unidos.

Paralelamente, apesar de ainda manterem um discurso favorável a demandas palestinas na região, esses governos árabes têm demonstrado descontentamento com a postura dos líderes palestinos, o que tem deixado esses líderes mais isolados.

Segundo matéria da BBC, o ex-chefe da inteligência saudita e embaixador por muitos anos em Washington, príncipe Bandar Bin Sultan al-Saud, deu recentemente uma declaração na TV Al-Arabiya, estatal, de propriedade da ditadura saudita. O fato dele se manifestar em um veículo oficial demonstra a aprovação dos mandatários do país e dá a essas declarações um tom de mensagem governamental.

Al-Saud ressaltou que considera a causa palestina “justa”, mas responsabilizou as autoridades palestinas, no mesmo grau das israelenses (o que é inédito), pelo fracasso nas tentativas de se chegar a um acordo de paz.

“Como os palestinos podem chegar a um acordo justo quando seus líderes não conseguem nem mesmo concordar entre si?” A pergunta se referia à divisão entre a Autoridade Palestina, que governa na Cisjordânia, e o movimento islâmico palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, em uma administração dividida desde 2007.

Diante de todo esse novo cenário, as agressivas manifestações de militantes contrários a Israel, que impediu a realização da Feira de universidades israelenses na Unicamp, no último dia 3, é uma maneira desesperada de tentar reverter a aproximação de Israel de países árabes e reaproximá-los da cúpula palestina.

Antes, as universidades israelenses, sempre democráticas e favoráveis à diversidade, não eram uma ameaça.

Ficavam à margem nos conflitos na região. Agora, como fomentadoras de desenvolvimento e, por consequência, de acordos de Israel com o mundo árabe, elas se transformaram em um alvo, por terem se tornado uma alternativa que leve a uma paz concreta e duradoura.

Tentar minar esse vínculo, no entanto, é contrário aos interesses mundiais e às causas humanitárias, beneficiadas pelo avanço tecnológico.

Além disso, também é um empecilho para que, com o apoio de países árabes, os próprios palestinos encontrem soluções para facilitar um acordo de paz, um entendimento bom para todos, na busca da resolução dos graves problemas que assolam sua digna população.

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