Até agora, as opções de Tite não têm sido ruins, considerando-se que ninguém sabe qual será o resultado final
– Por Eugenio Goussinsky
Do entusiasmo da primeira partida à frustração da última, o balanço da atuação da seleção brasileira na primeira fase foi positivo. Técnico da seleção em Copa do Mundo é mais pressionado do que o próprio presidente da República.
Muitos críticos, não apenas os da mídia, transformam em rancor as diferenças de conceito, as antipatias, as discordâncias e potencializam tudo o que não saiu dentro do que era previsto.
É muito tentador se deixar levar por pequenos impulsos de ódio que, muitas vezes, são ocultados pela impressão de imparcialidade.
Desta forma, o que não é tão ruim é transformado em péssimo. Um bom médico, por exemplo, tem que atender com todo o esmero um paciente com o qual ele não simpatiza.
Seria melhor se todas as pessoas, sejam elas críticos, torcedores e cidadãos, pensassem dessa maneira, tentando se colocar acima das paixões no momento de analisar algo ou alguém que os frustra.
Sem isso, fica a falsa e cruel impressão de que é possível para qualquer um, principalmente os desafetos, controlar o imponderável.
Na vida, inclusive dos críticos, todos nós fazemos escolhas, desde que acordamos pela manhã, entendendo, mas não com a garantia, de que são as mais adequadas para cada momento: o que vestir, a que horas sair, quando falar, reclamar, agir, silenciar…
Com o amadurecimento, elas tendem a ficar mais acertadas.
Tite se baseou na vivência do cargo para tentar não errar. E suas escolhas têm tido essa característica, acrescidas de que mesmo assim nada garante que serão as mais certas.
Todos nós estamos sujeitos a situações como essa.
Até agora, as opções de Tite não têm sido ruins, considerando-se que ninguém sabe qual será o resultado final.
Diante do pouco tempo de preparação e de recuperação, foi a opção certa não ter feito amistosos antes do início da competição.
Também foi correto ter poupado os titulares na terceira partida, com a classificação garantida. A comissão técnica considerou que os dois jogos iniciais, dos titulares, foram suficientes para dar ritmo ao time.
Após a vitória na estreia por 2 a 0 sobre a Sérvia, a atuação da equipe foi exaltada como uma das melhores dos últimos tempos.
Falou-se em como era infernal para os adversários terem de enfrentar Neymar, Raphinha, Rodrygo, Richarlison, Vinícius Jr. e, quando estes estivessem mais cansados, terem de encarar substitutos como Antony, Pedro e Martinelli.
Após a derrota para Camarões, alguns tentaram dar uma dramaticidade desproporcional à realidade.
Tite até pode ser criticado, de forma construtiva, por uma ou outra escolha. Mas não é saudável dar à crítica o tom da acusação.
Com os seus recursos técnicos e com tudo o que tem mostrado ao longo do trabalho, o Brasil tem todas as condições de superar a Coreia do Sul, seleção muito menos tradicional em Copas do Mundo.
É provável que chegue às semifinais. É muito possível que seja campeão. Mas nem eu, nem Tite, nem ninguém, sabemos o que acontecerá de fato. Será mais fácil, para todos nós, falarmos depois. Como se soubéssemos antes.