A IAG (inteligência artificial generativa) e os chatbots já permeiam nossa vida diária, desafiando nossos valores tradicionais
O século 18 foi marcado por mentes brilhantes como Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant, que, ainda hoje, têm o poder de iluminar nossos dilemas éticos na era digital.
Rousseau postulava que os humanos, em seu estado mais básico, eram inerentemente bons, mas a estrutura social corrompeu essa bondade. Ele viu a propriedade e a comparação social como catalisadores dessa corrupção, questionando se a civilização e a razão realmente nos beneficiavam ou nos distanciavam de nosso verdadeiro eu.
Em contrapartida, Kant via a razão como nosso guia moral inato. Ele postulou que as ações humanas deveriam ser determinadas por princípios universais, defendendo que a sociedade e suas normas são manifestações da nossa capacidade de raciocinar.
Dentro deste diálogo, enquanto Rousseau anseia pela pureza perdida, Kant valoriza nossa habilidade racional. Ambos oferecem uma janela para compreender o humano em sua complexidade, entre a saudade de uma essência pura e a apreciação de nosso intelecto.
Agora, em plena era digital, enfrentamos novos dilemas éticos. A IAG (inteligência artificial generativa) e os chatbots já permeiam nossa vida diária, desafiando nossos valores tradicionais. A ética questiona o certo e o errado, enquanto a moral reflete as normas escolhidas por uma comunidade. No contexto da IAG, isso se torna especialmente complexo.
Maravilhamo-nos com máquinas que aprendem continuamente, adaptando-se a cada interação. Mas, o que ocorre quando elas absorvem opiniões polarizadas ou discursos tóxicos da web? Podemos, sem perceber, criar uma máquina que ecoa preconceitos. Além disso, por trás de cada algoritmo há seres humanos, cada um com suas visões de mundo. Como garantir a objetividade? E mais, o que impede manipulações mal-intencionadas?
Para enriquecer nosso pensamento sobre o tema, podemos sugerir algumas responsabilidades e condutas dos profissionais de IA:
Transparência: os desenvolvedores e cientistas de IA devem se esforçar para tornar seus modelos transparentes, explicando como funcionam e as decisões que tomam.
Responsabilidade: os profissionais devem assumir a responsabilidade pelas soluções de IA que desenvolvem e garantir que elas funcionem conforme o esperado.
Privacidade e proteção de dados: garantir que os sistemas de IA respeitem a privacidade dos usuários e estejam em conformidade com as regulamentações de proteção de dados.
Justiça e equidade: os sistemas de IA devem ser projetados para serem justos e evitar reforçar preconceitos existentes. Isso envolve evitar vieses no treinamento de dados e nos próprios modelos.
Beneficência: trabalhar para garantir que a IA beneficie a humanidade e minimize os potenciais danos.
Integridade profissional: manter altos padrões de integridade em todas as atividades relacionadas à IA, evitando conflitos de interesse e sendo honesto sobre as capacidades e limitações dos sistemas de IA.
Cooperação interdisciplinar: cooperar com especialistas de outras disciplinas para garantir que os sistemas de IA sejam desenvolvidos com uma perspectiva ampla e holística.
Formação contínua: como a IA é uma área em rápido desenvolvimento, é essencial que os profissionais se dediquem à aprendizagem contínua para manter-se atualizados.
Respeito pelos direitos humanos: garantir que o desenvolvimento e uso de IA estejam alinhados com os direitos humanos fundamentais.
Previsão de impactos futuros: enquanto se desenvolvem tecnologias emergentes, considerar as implicações de longo prazo e potenciais cenários futuros.
Concluindo, a rápida expansão da inteligência artificial está reformulando nosso mundo, trazendo possibilidades e preocupações. Com isso, surgem questões cruciais: como garantir que a IA seja ética e justa? Como lidar com a concentração de dados em grandes corporações? E o impacto potencial sobre o emprego? Por ora, é difícil responder tais questões, pois, ao explorar a fronteira da IAG, navegamos por um território não mapeado. Apesar do entusiasmo tecnológico, é crucial reconhecer os desafios éticos e morais. Diante dessas inovações, devemos adotar uma postura reflexiva e, talvez, um otimismo cuidadoso.
*Jony Wolff (jony@nasegundaeucomeco.com) é escritor, mentor pessoal, development strategist, psicodramatista, consultor em ética em inteligência artificial e triatleta. Atualmente mora em Israel.