Equipes europeias, como essa do técnico Guardiola, ainda se mostram muito superiores pelo lado coletivo, mas isso pode ser revertido, quem sabe, nesta sexta-feira (foto: Marcelo Gonçalves/Fluminense F.C)
Por Eugenio Goussinsky
Antes de toda a final de Mundial, entre um brasileiro e europeu, nos últimos anos, as conversas são as mesmas. Confusas, por assim dizer. Ficamos com um misto de realismo e esperança. Por um lado, imaginamos um equilíbrio em campo. Cenas das equipes brasileiras se superando vêm a mente, para logo serem substituídas por uma pergunta que invade de forma implacável: “Mas e se for uma goleada histórica?”
De país do futebol, nos tornamos o país que sente saudade do futebol. Estava assistindo a um Vasco e Corinthians pela Copa João Havelange, em 2001. O toque de bola preciso, a busca do gol, o futebol fluente me remeteu ao que hoje seria um Manchester City x Real Madrid. Também, na época, estavam em campo nomes como Felipe, Romário, Luizão, Juninho Paulista, Juninho Pernambucano, Vampeta. Era, no fundo, a nata do futebol mundial mesmo.
Mas por que hoje os times brasileiros se tornaram tão inferiores a ponto de parecerem equipes juvenis diante de poderosos profissionais? O dinheiro, sim, é um fator. Mas tem algo mais que passa muito mais por fora de campo, na preparação, do que por dentro. Dizemos que aqui no Brasil, o nível dos profissionais e dos equipamentos de fisiologia, medicina e preparação física não perdem para nenhum país. Mas então por que essa defasagem, que faz parecer que os adversários europeus entram com um ou dois jogadores a mais?
Mais do que a preparação, acredito que tenha algo a ver com a forma da preparação. Há uma mentalização natural em direção à vitória, na Europa. Isso, somado a uma inteligência tática treinada com eficiência, dá aos times do continente uma intensidade muito, mas muito maior do que a dos brasileiros. Até pela identidade que tínhamos, era uma intensidade que existia no futebol brasileiro. Em ternos de fome de vitória, de ímpeto, de confiança, que foi se perdendo nos últimos anos.
De qualquer maneira, o estilo de Fernando Diniz busca reverter essa situação, no jogo desta sexta-feira, pela final do Mundial Interclubes. Pode ser que ele esteja conseguindo. Como pode não ser. Um fator importante nesse sentido foi o expediente usado por ele para vencer a Libertadores: todo dia é dia 4 de novembro, dizia ele na prelação, com entusiasmo, antes de cada jogo da competição sul-americana.
E no dia da final contra o Boca, em 4 de novembro, quando ele perguntou, na preleção, com todo o vigor, que dia é hoje…A resposta foi uma explosão: 4 de novembro!!! Essa intensidade, ainda que não tão grande quanto de um clube europeu, ajudou na vitória.
E, na esperança de que o Fluminense esteja buscando se fortalecer mentalmente para o jogo, ouso até dizer que, time por time, individualmente e tirando todo o contexto tático, de atuação da equipe, até prefiro o do tricolor carioca. Vamos lá. Entre Éderson e Fábio, fico com Fábio. Walker é superior a Samuel Xavier neste momento. Mas não vejo Stones melhor do que Nino. E nem Akanji melhor do que Felipe Melo.
E se alguém falar que Aké é melhor que Marcelo, vou discordar com veemência. E dizer que, mesmo se todos os titulares do Manchester, como De Bruyne e Haaland estivessem em campo, o melhor entre os 22 seria o lateral-esquerdo brasileiro, o maior vencedor de títulos pelo Real Madrid e com duas Copas do Mundo no currículo.
Rodri tem mais recursos no momento do que o bom André, em início de carreira. Mas, sinceramente, prefiro, individualmente, o vibrante Martinelli do jogo contra o Al-Ahli do que o croata Kovacic. Sou mais Ganso na melhor forma, com sua visão comparável à dos maiores craques de todos os tempos, do que o bom Matheus Nunes. Bernardo Silva é mais completo do que Arias. Entre Cano e Foden, Cano é mais artilheiro. E ainda prefiro o forte Keno ao superestimado, apesar de muito bom, Grealish.
Se o Fluminense for derrotado, considero, portanto, que a causa será muito mais essa questão de intensidade e mentalidade europeia do que a qualidade individual de cada time. Neste sentido, o futebol é um jogo coletivo. O Brasil, com seus talentos individuais, ainda não conseguiu recuperar essa distância. Que ficou grande nos últimos tempos, em função até da própria identidade do futebol, e do povo brasileiro, em meio a uma crise, que, quem sabe, um dia vai acabar. Sim, o futebol é mesmo a alma de um povo.
Ederson; Walker, Stones (Gómez, 31’/2ºT), Akanji (Gvardiol, 19’/2ºT) e Aké; Rodri (Phillips, 31’/2ºT), Kovacic e Matheus Nunes, Bernardo Silva (Bobb, 19’/2ºT), Foden (Álvarez, 19’/2ºT) e Grealish.
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