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Israel e países asiáticos: concorrentes ou parceiros?

Israel Ásia tecnologia

Incentivos fiscais estão também presentes e são determinantes para o desenvolvimento tecnológico | Foto: Reprodução/Pixabay

Desenvolvimento de potências no setor de P&D, como Coreia do Sul, Taiwan, Japão e China, é uma realidade e ocorre em paralelo a um forte crescimento israelense no setor, diz especialista

Eugenio Goussinsky

Para a inovação ser uma das principais prioridades da estratégia de desenvolvimento e progresso, é necessária uma política de inovação clara. Cada vez mais os países têm na pesquisa e desenvolvimento (P&D) um instrumento de crescimento econômico e inserção diplomática.

Europa e Estados Unidos (EUA) ainda são os líderes. No entanto, em vários setores, países asiáticos como Coreia do Sul, Taiwan, China e Japão se tornaram expoentes. Em outro ponto da Asia, no Oriente Médio, Israel, em meio a guerras e vizinhos hostis tem conseguido se manter entre os mais importantes centros de Ciência e Tecnologia no mundo. Cabe então a pergunta: tais países asiáticos e Israel são competidores ou parceiros?

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O professor Rodrigo Fernando Gallo, coordenador do curso de Relações Internacionais do Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano do Sul (SP), ressalta ao Portal E21 que Coreia do Sul, Taiwan e China passaram por um processo de industrialização muito rápido.

“Entre condições internas e externas para isso estava a percepção de que havia demandas internacionais ligadas a áreas que essas nações poderiam dominar com alguma potencialidade.”

Já o contexto de pós-Segunda Guerra Mundial levou o Japão, lembra ele, a modenizar seu parque com vistas também aos mercados globais. O país se direcionou mais para as áreas de robótica e para o setor automotivo, prossegue o professor, com empresas multinacionais como Toyota e Honda, e em eletrônicos com marcas renomadas como Sony e Panasonic.

A Coreia do Sul, que já foi o país mais inovador do mundo (atualmente é a Suíça). de acordo com o Índice Global de Inovação, desponta com a indústria de desenvolvimento de eletrônicos. Os destaques, diz Gallo, são empresas globais como Samsung e LG. No setor automotivo, os sul-coreanos têm a Hyundai e Kia e lideram em 5G, nas telecomunicações.

Taiwan, nos últimos anos, se tornou o centro mundial dos microchips e reconhecida mundialmente desde o final da década de 1980 por sua indústria de semicondutores, liderada pela TSMC.

Dentro de um regime completamente diferente, marcado por um Estado opressor na política e uma liberalização da economia, a China, além da indústria, buscou conquistar sua fatia no mercado de tecnologia. Tornou-se especialista em e-commerce (com a Alibaba) e na área de fintechs, como o exemplo do Ant Group. O setor de tecnologia móvel, diz Gallo, tem na Huawei e Xiaomi nomes dos mais competitivos no cenário mundial.

“Também é importante frisar que a China tem investido no desenvolvimento de inteligência artificial (IA).”

A parceria do governo com empresas privadas tem sido fundamental nestes países, acrescenta o professor Gallo. Assim como em Israel. Em todos eles, a participação das universidades com empresas e governos também é vital. Outra questão, do soft power tem sido determinante. A Coreia do Sul é o melhor exemplo.

“O governo sul-coreano apoia o desenvolvimento tecnológico com políticas de incentivo fiscal e suporte a grandes conglomerados, utilizando a cultura como suporte de transferência internacional da imagem do país para o exterior”, diz Gallo, referindo-se à grande quantidade de séries para streaming desenvolvidas em território sul-coreano.

Os incentivos fiscais estão também presentes em Taiwan, Japão e China que, além disso tem uma forte preocupação em proteger o mercado interno, em uma disputa comercial com os EUA.

“É importante reforçar que não há desenvolvimento econômico no setor privado se não houver incentivo público em alguma medida”, ressalta o professor da Mauá. “Esses países asiáticos são a prova disso.”

Para Gallo, o desenvolvimento tecnológico de Israel tem algumas diferenças em relação ao destes países asiáticos, pelo seu foco central em inovação disruptiva (que rompe padrões) e uma forte cultura empreendedora desenvolvida desde cedo.

“Israel possui a maior densidade de startups per capita do mundo e se destaca pela integração entre o setor de defesa e a tecnologia civil, inclusive porque os conflitos internos, como os choques contra a Palestina, e o entorno regional demandam essa característica. Essa abordagem impulsiona avanços rápidos e inovadores, especialmente em áreas de alta tecnologia.”

Os investimentos israelensees em infraestrutura e P&D são direcionados majoritariamente aos setores de cibersegurança, tecnologia médica, agricultura tecnológica, fintech e IA.

“O setor de tecnologia agrícola é interessante: boa parte do país é desértico e tem um clima hostil à agricultura: a tecnologia desenvolvida se mostra capaz de superar essas adversidades, e por isso se tornou referência mundial”, diz Gallo.

Israel é o primeiro em percentual do PIB

Relatório de Indicadores Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação, elaborado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil informou que, em 2022, apenas Taiwan não estava na lista dos dez maiores percentuais do PIB direcionados à P&D.

Na lista, Israel apareceu em primeiro lugar (4,93%). A Coreia do Sul veio em segundo (4,64%), seguida do Japão (3,2%). Em quarto ficou a Alemanha (3,19%), em quinto os Estados Unidos (3,07%) e em sexto lugar ficou a China (2,23%).

Tal nível de investimentos, por necessidade de segurança e abertura comercial, levou Israel a ser considerado o País das Startups.

“Isso ocorre devido à grande quantidade de empresas com essas características”, ressalta Gallo.

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“Pelos registros oficiais, são quase 2 mil startups em território israelense, sendo que cerca de 25 delas são consideradas unicórnios [avaliadas em mais de um bilhão de dólares].”

Os quatro países asiáticos, Coreia do Sul, Taiwan, Japão e China, em relação a Israel, são tanto parceiros quanto competidores no mercado de tecnologia, lembra Gallo.

“Isso é um reflexo da complexidade da economia no mundo contemporâneo”, ressalta o professor. “Por exemplo, há competição em setores como semicondutores, mas também parcerias em áreas de pesquisa e desenvolvimento conjunto, especialmente em inteligência artificial e telecomunicações. Há muito intercâmbio de tecnologia e de pessoas”

Ele acrescenta que, uma interação cada vez maior entre os países asiáticos e Israel, seja por meio de colaboração em pesquisa e desenvolvimento ou compartilhamento de melhores práticas, pode ser altamente benéfica para a inovação tecnológica global.

Tal situação já vem ocorrendo. No fim de junho, a plataforma de investimento israelense OurCrowd anunciou que abriu um fundo de cooperação binacional entre Israel e a Coreia do Sul. O fundo buscará arrecadar US$ 80 milhões para apoiar startups em ambos os países.

Serão escolhidas cerca de 30 startups em Israel e na Coreia do Sul com desenvolvimentos tecnológicos nos setores automotivo, cibersegurança, computação quântica, saúde digital e robótica. Metade da quantia total já havia sido arrecadada pelas empresas sul-coreanas NH Venture Investment e K-Growth,

“Podemos dizer que ninguém é bom em tudo o que faz. Sendo assim, os países também não podem ser vistos como unidades fechadas que resolvem todos os seus problemas sem ajuda externa”, observa o professor. “É necessário haver colaboração, inclusive como forma de acelerar os processos. A colaboração em P&D permite a combinação de conhecimentos e recursos, o que acelera o desenvolvimento de novas tecnologias para o mundo.”

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