Eugenio Goussinsky
No momento em que os dirigentes do Flamengo dispensaram Dorival Júnior, depois das conquistas da Libertadores e da Copa do Brasil, em 2022, ficou uma sensação de estranheza.
A explicação, nos bastidores, é a de que a equipe, nos últimos jogos daquele ano, mesmo com os títulos, não demonstrou a sede de vitórias que os dirigentes e torcedores desejavam para iniciar o ano em alta.
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Naquele momento, parecia mais uma das atitudes sem lógica dos dirigentes. Na atual campanha na Copa América, porém, esta mesma característica está prevalecendo com a camisa mais vitoriosa do planeta. Comandada pelo mesmo Dorival.
De forma ainda mais intensa porque, na derrota do Fla para o Avaí, que culminou com a saída dele, o Fla jogou com dois meias, algo que nem na seleção está ocorrendo.
Dorival tem mostrado a velha característica que marcou parte de sua carreira e a de muitos técnicos brasileiros: quer “fechar a casinha.” Isso, em se tratando de seleção, é inconcebível, independentemente da fase.
A superação de uma crise na seleção é diferente. Mesmo em mau momento, a cada jogo, a a equipe tem a necessidade de se impor, de buscar alternativas para isso.
Caso contrário, corre o sério risco de afundar ainda mais, porque vai perdendo aquela áurea temível que se tornou parte da própria história e entra em campo junto com o fator técnico e tático.
Dorival busca fazer na seleção o que fez em muitos dos clubes que dirigiu. Manter volantes, com medo de se abrir, o que tem se tornado um conceito distorcido.
Erros de convocação também ficaram evidentes contra a Colômbia. Dorival é um bom treinador, mas a impressão que dá é a de que ainda lhe falta experiência.
Não poderia jamais criar um clima que tornou, de forma até inédita, o adversário o “time grande” antes e durante um jogo da seleção brasileira.
Ele argumenta que não quer queimar Endrick, mas o tem colocado somente nos últimos cinco minutos, com todo o peso para decidir.
A falta de um centroavante ficou evidente e se torna praticamente imperdoável a ausência de Pedro, melhor jogador da posição no Brasil. Foi um erro claro.
Cultura brasileira
Um treinador da seleção brasileira não pode cair na mesmice. Precisa ter o lastro de um Marcelo Bielsa, de um Jorge Jesus, de um Guardiola.
Como Dorival, titubeante, vai ganhar a confiança de Vinícius Júnior e de Rodrygo, acostumados com as palavras precisas e resolutas de Ancelotti?
Ainda é tempo de reverter, mas para isso surge a necessidade de o treinador mudar a postura.
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Além de estudos táticos, é preciso saber ousar, acreditar na própria imaginação. A função é como a de um grande cozinheiro, de uma cozinha que tem a todo o momento que elaborar os pratos mais saborosos.
A cultura brasileira tem no feijão com arroz seu prato mais famoso. E mais simples. O futebol brasileiro também faz parte desta cultura. Mas o diferencial da seleção é que a receita requer sempre algo mais surpreendente. Feijão com arroz não basta.