Ciência e Tecnologia
Cientista de Israel fala sobre a cura do câncer de mama: “Buscamos uma conquista importante”
Em entrevista exclusiva ao portal E21, Sarit Larisch, da Universidade de Haifa, conta como observou que a proteína ARTS age sobre células cancerígenas e pode produzir um medicamento no futuro
- Por Eugenio Goussinsky
Aos 63 anos, a cientista Sarit Larisch, nascida na Romênia e radicada desde a infância em Israel, está passando por momento importante em sua carreira. Talvez o mais. Ela tem sido vista como a representante de um desejo da humanidade de superar uma das suas maiores ameaças: o câncer.
Para tanto, visitou o Brasil recentemente e apresentou sua pesquisa que talvez seja a “cereja do bolo“ de várias outras feitas neste sentido e que a ajudaram a chegar a algumas conclusões.
Chefe dos Departamentos de Biologia e Ciências Médicas da Universidade da Universidade de Haifa, Larisch discorreu sobre descobertas de moléculas com potencial de eliminar o câncer de mama.
O trabalho se baseou em desvendar características da proteína ARTS, que já vinha sendo estudada em vários locais. Trabalhos no sentido de conectar o gene p53, que atua na indução da apoptose (morte celular programada), entre outras funções.
Tal gene está presente na proteína ARTS. E a ARTS se mostra determinante para matar células cancerígenas, que, no caso da pesquisa de Larisch e sua equipe, provocam o câncer de mama. A ARTS impede as células saudáveis de se tornarem cancerígenas. Em declaração exclusiva ao portal E21, Larisch explicou o processo.
“A ARTS é necessária para começar o programa de morte celular nas células. De fato, descobrimos que muitas formas de cânceres perdem a atuação da ARTS, evitando assim a morte celular e possibilitando transformá-las em células cancerígenas. Restaurando a atuação da ARTS nessas células, elas foram induzidas a cometer suicídio celular seletivo. Agora identificamos pequenas moléculas que imitam a função de ARTS“, destacou.
O Brasil também tem pesquisas neste sentido, voltadas a vários tipos de cânceres, conforme mostra o portal do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Pesquisa publicada no portal em 2002, assinada pelos médicos Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior, Claudete Esteves Klumb e Raquel C. Maia, já abordava essas questões e analisava a capacidade da p53 de neutralizar o potencial cancerígeno em células.
Entre vários estudos realizados por Larisch, está também um que ela fez ao lado dos cientistas Qian Hao, Jiaxiang Chen, Junming Liao, Yingdan Huang, Yu Gan,Sarit Larisch, Shelya X. Zeng, Hua Lu e Xiang Zhou, de universidades chinesas e americanas.
Além de sua capacidade como cientista, um dos pontos que ajudaram Larisch a desenvolver a pesquisa relativa ao câncer de mama é a própria estrutura da Ciência em Israel. A pesquisa contou com suportes de fundos. No país, há uma integração permanente entre a universidade e as empresas privadas, muitas delas alvos de investimento de fundos.
Larisch, entre outros, é bacharel em Ciências na área de Biologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Seu objetivo é, a partir dessa molécula, criar um medicamento que possa ser preventivo e até atuar na cura após o diagnóstico. Algo que ainda não existe. O estudo de Larisch, no entanto, ainda não foi aplicado nas mulheres.
“Ainda estamos em fase de testes. Possuímos uma nova estratégia para a prevenção do câncer de mama. Embora o tratamento de pacientes diagnosticados no começo dessa doença seja crítico para a sobrevida a longo prazo, atualmente não existem medicamentos ideais que possam interromper o desenvolvimento do tumor nesse estágio inicial“, diz.
A maneira pela qual as moléculas “imitam a ARTS“ e neutralizam as células malignas ainda é uma incógnita.
“Estamos investigando ainda o mecanismo pelo qual essas pequenas moléculas revertem as células pré-cancerosas da mama para o estado normal. Até a fase atual, descobrimos que enzimas específicas induzidas por tais moléculas podem promover a reprogramação dessas células de volta ao estado normal“, acrescenta.
“No momento estamos no processo de desenvolvimento dessas nanomoléculas em uma nova classe de potentes e distintos agentes anticancerígenos com uma ampla gama de terapias a partir disso.“
O que ainda falta entender
Larisch pretende trazer para o câncer de mama resultados terapêuticos similares aos que foram encontrados para a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e para a Hepatite C, que eram doenças letais.
“Pacientes com essas doenças, hoje, são tratados com medicamentos e, em geral, sobrevivem. Queremos também transformar o câncer de mama em uma doença que seja controlada por medicamentos.“
Neste momento, ela ressalta, não existe um tratamento preventivo eficaz que possa combater seletivamente o crescimento do câncer de mama. E também prevenir situações pré-cancerosas e proteger outras pacientes com risco de desenvolver câncer de mama, como portadoras das mutações BRCA1/2 (genes supressores de tumor, que, quando têm alterações, podem possibilitar o câncer).
“Há, com isso, uma necessidade enorme de medicamentos que previnam o desenvolvimento do câncer de mama. O que estamos propondo é um modelo revolucionário para a prevenção do câncer de mama, revertendo as células pré-cancerosas em estágio inicial para suas características normais, interrompendo assim a iniciação e também a própria evolução do câncer de mama.“
A partir desta etapa, falta ainda entender a maneira exata da reversão do tumor, por parte da molécula, segundo Larisch.
Assim, ela afirma que conseguirá decifrar melhor as mutações críticas que são necessárias para retirar das células pré-malignas o seu potencial cangerígeno. Mas há outras etapas, antes que as pesquisas cheguem ao ser humano.
“Buscamos uma conquista importante que será demonstrar que conseguimos neutralizar a evolução do câncer de mama em culturas e em modelos animais. Com isso, ficaremos próximos de identificar um composto que seja referência para o desenvolvimento clínico subsequente, em seres humanos.“
No Brasil, segundo estimativa do INCA para 2023, devem ocorrer 73.610 casos novos de câncer de mama. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama feminina é o mais incidente no país e em todas as regiões. Encontrar um remédio, segundo Larisch, iria reduzir o drama das pessoas e os altos custos com internações, tratamentos, consultas, medicamentos geralmente paliativos e ineficazes.
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