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Cássio viveu o inferno contra o Santos

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No clássico, clima agressivo mostrou que o termo inferno, usado por Gabigol, em nada contribui com a paz nos estádios. (Foto: Rodrigo Coca/Corinthians/Instagram Cássio)

 

Eugenio Goussinsky

Na última quarta-feira (13), cenas de barbárie ocorreram no jogo entre Santos e Corinthians. Torcedores ensandecidos invadiram o campo após o jogo e um deles agrediu o goleiro Cássio. Ocorreu no estádio da Vila Belmiro, mas retratou o clima que tem tomado conta de boa parte do futebol brasileiro.

Dias antes, o atacante Gabigol, ex-Santos, saiu do campo do Mineirão irritado com a pressão da torcida atleticana e falou que no Rio, no jogo de volta, eles iriam conhecer o que é o inferno.

A declaração causou justa indignação na diretoria atleticana e isso foi visto como exagero por boa parte dos torcedores e da mídia. Poderíamos achar até que eles viram isso como “mimimi”.

O jogador, na declaração, não deu nenhum sinal de que o inferno a que ele se referia era somente uma pressão intensa dentro de campo. Mas se deram ao direito de interpretar desta maneira perigosa.

O inferno, se já não está, entra no chamado inconsciente coletivo a cada chamamento. Não se brinca com o fogo, diria o ditado popular.

Nem importa o time. Importa é saber da incendiária declaração. Que, no mínimo, em nada contribui para a paz nos estádios.

Mas os defensores do irreverente Gabigol, aquele que traz graça ao futebol, trataram de interpretar desta maneira. Afinal, para eles, está ok o xingamento, a pressão hostil, a ofensa. Desde que não haja mortes.

Então, de maneira infernal, ocorre uma agressão física e, tal qual engenheiros de obras prontas, começa-se a bradar contra a violência.

O Corinthians e Cássio viveram o inferno na Vila Belmiro. Estou errado em minha interpretação?

Não basta dizer com sorrisos que o futebol é isso aí mesmo, é guerra em campo, rivalidade pilhada, é xingamento, que as falas de Gabigol são importantes para apimentar os jogos e depois cobrar das autoridades atitudes contrárias à violência.

A cultura da violência alimenta a violência. Sartre dizia que o “inferno são os outros”. Por isso, para Gabigol, e para tantos, inclusive muitos de nós, jornalistas, “pimenta nos olhos dos outros é refresco”.

Para ele, como para tantos, parece valer o código do déspota sanguinário Hamurabi (1792 a.C a 1750 a.C) na Babilônia em que se cortava a cabeça dos opositores: a famosa Lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”. Aqui, ainda não retrocedemos a tal ponto, mas o caldeirão fervilha.

Está na atual essência do futebol negócio de hoje, com tantas transmissões que às vezes geram debates rasos, repetitivos e ineficientes, no ano de 2022 d.C: dentro de campo, é claro…

Só não me venham depois dizer, a cada briga no estádio, a cada intolerância ao rival, a cada agressão, que o inferno está cheio de boas intenções.

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