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Ciência e Tecnologia

EXCLUSIVO: Universidade de Londres: revelados escritos babilônios de 4 mil anos

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Babilônios previsões escritos cuneiforme

Professor Andrew George, que atuou ao lado da especialista Junko Taniguchi, conta ao Portal E21 como descobriu a relação entre eclipse lunar e previsões de catástrofes

Eugenio Goussinsky

Quatro tabuletas de argila babilônicas descobertas há mais de um século no território que hoje é o Iraque, acabam de ser decifradas pelos pesquisadores Andrew George, professor emérito da Universidade de Londres, e Junko Taniguchi, uma pesquisadora independente. Elas estavam preservadas no Museu Britânico, na Inglaterra.

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Esses antigos registros descrevem como os eclipses lunares eram interpretados como sinais de tragédias iminentes.  O Primeiro Império Babilônico durou de 1792 a.C. a 1750 a.C. O periódico acadêmico Journal of Cuneiform Studies publicou os resultados dos estudos.

Em depoimento exclusivo ao Portal E21, Andrew explica o porquê dos babilônios associarem os eclipses aos acontecimentos.

“Analogia. Acreditava-se que o céu e a terra eram imagens espelhadas. Os eventos observados no céu eram considerados significar eventos na terra”, afirma o professor. “O eclipse das principais luzes celestes – a lua e as estrelas – significava, por analogia, a queda de grandes figuras [reis, etc.] na terra.”

A influência dos adivinhos

O eclipse lunar ocorre quando a Lua cheia mergulha na sombra da Terra, posicionada entre ela e o Sol. Os babilônios, como pioneiros na observação do céu, consideravam que esses momentos carregavam um simbolismo profundo. Mais do que um evento astronômico, eles acreditavam que os eclipses transmitiam mensagens dos deuses, revelando o destino de reis e nações. No entanto, não se tratava de uma crença religiosa, ressalta Andrew.

“Os presságios dos eclipses lunares, como outros presságios, não eram textos religiosos”, observa o pesquisador.

“Eles situavam uma teoria acadêmica dentro de uma estrutura intelectual na qual os deuses desempenhavam um papel, mas funcionavam como veículos de comunicação entre deuses e homens, e não para questionar a condição humana [outros textos faziam isso]. Assim, os textos de presságios de eclipse lunar eram orientados para o pragmatismo, e não para a investigação religiosa, fé e dúvida.”

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Um dos presságios mais recorrentes atribuídos aos eclipses era a morte do monarca, considerado o elo entre os homens e os deuses. Preocupados com essas ameaças, os babilônios desenvolveram ferramentas para prever esses eventos, como o ciclo de Saros, que, ao longo de 223 meses lunares, permite identificar padrões de repetição dos eclipses.

Andrew conta que os babilônios desenvolveram ferramentas tecnológicas por acreditarem no significado dos acontecimentos. Ele afirma que, por volta de 1900 a.C., os estudiosos babilônios haviam desenvolvido este método teórico para interpretar presságios no céu e em outros lugares.

“Eles acreditavam que os presságios eram mensagens codificadas dos deuses, alertando as pessoas na terra sobre eventos futuros, principalmente desastres”, conta o professor. Segundo ele, o método teórico acolhia a decodificação de todo tipo de presságio, não somente no céu. Uma vez que os presságios eram relacionados às previsões, prossegue, outras ferramentas (principalmente cânticos rituais) podiam ser usadas para anular a previsão e evitar a catástrofe.

“A adivinhação era uma disciplina acadêmica que se tornou essencial para a governança – governar de acordo com a vontade dos deuses. Assim, astrólogos e outros adivinhos passaram a exercer grande influência na corte.”

A mensagem das tabuletas

Depois de anos de estudos, os pesquisadores traduziram as tabuletas. Elas revelam uma lista de presságios sombrios que os eclipses poderiam anunciar:

Epidemias devastadoras

Crises econômicas severas

A queda de dinastias

Inundações catastróficas

Rebeliões sangrentas

A destruição de Elam, uma civilização vizinha

Escrita cuneiforme

Alguns presságios, no entanto, não eram absolutos, mas condicionais, diz o The Jerusalem Post. Por exemplo, em determinadas situações, os textos sugeriam que, caso o rei fosse sacrificado, o povo seria poupado. Caso isso não ocorresse, a desgraça recairia sobre toda a nação. Para evitar esses desfechos, eram realizados rituais religiosos destinados a proteger o soberano.

Um dos cuidados de Andrew e Junko Taniguchi foi no momento de decifrar a escrita cuneiforme, que era a utilizada pelos babilônios.

“Os principais desafios na decifração de qualquer texto cuneiforme são (a) filológicos – trabalha-se com o vocabulário, gramática e sintaxe de uma língua extinta há muito tempo – e (b) físicos – as tábuas cuneiformes raramente estão inteiras, e a superfície inscrita muitas vezes está danificada, de modo que o decifrador precisa aprender a ler passagens quebradas assim como textos bem preservados.”

A escrita cuneiforme é um sistema de escrita desenvolvido pelos sumérios na Mesopotâmia por volta de 3200 a.C., caracterizado por símbolos impressos em tábuas de argila com uma ferramenta em forma de cunha. Ela foi utilizada principalmente até o primeiro milênio a.C. por várias civilizações da região, como os babilônios e assírios.

A verdade das previsões

Em relação às previsões das tabuletas, elas tinham algum fundo de verdade? Andrew conta que elas revelavam muitas outras “verdades” daquele tempo, daquela cultura e não necessariamente dos acontecimentos.

“O paradigma em qualquer texto de presságio é baseado em uma ou mais observações reais, mas permite a extrapolação de presságios impossíveis, por exemplo, eclipses lunares em dias do mês lunar quando eclipses não podem ocorrer [eles só podem ocorrer na noite de lua cheia, ou seja, 14, 15 ou 16º dia de um mês lunar].”

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Por isso, o professor destaca o relativismo destas verdades.

“Portanto, eles não são ‘verdadeiros’ no sentido simples da palavra”, prossegue ele. “As previsões são genéricas e revelam as ansiedades dos reis e príncipes babilônicos. A combinação de presságio e previsão pode ter sido baseada em uma única ocorrência real – digamos que um eclipse ocorreu e então o rei morreu, ou alguma outra catástrofe ocorreu – e a origem e o princípio da adivinhação babilônica provavelmente estavam em tais coincidências, mas, como os temos, os textos de presságios babilônicos são construções acadêmicas, nas quais presságios e previsões são combinados e elaborados de acordo com uma teoria não escrita de codificação. Eles foram interpretados como avisos, não como sequências inevitáveis ​​de eventos. Como construções de especulação intelectual, os presságios não são ‘verdadeiros’.”

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