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Ciência e Tecnologia

‘O Brasil precisa de fomento à inovação’, diz empreendedor Shaul Shashoua

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IBI-Tech

Como um dos sócios da startup israelense IBI-Tech, ele conta ao portal E21 como iniciou no setor e revela as principais carências a serem preenchidas no intercâmbio tecnológico entre os dois países (Foto: Reprodução/IBI-Tech)

Por Eugenio Goussinsky

Em 1991, aos 19 anos, o carioca Shaul Shashoua se despediu das praias do Rio de Janeiro rumo a um novo horizonte. Fez aliá com o intuito de servir o Exército israelense, por um ideal sionista.

Era uma época em que o país judaico vivia ares de mais esperança e menos guerras. O Acordo de Madrid, com os palestinos, havia sido assinado, num prenúncio para o de Oslo, dois anos depois.

Shaul chegou ao país e, ao mesmo tempo, em que dava início ao seu sonho, um outro, o do desenvolvimento tecnológico, se fortalecia em Israel.

Graças ao retorno de cientistas que haviam ido para o Vale do Silício por causa da inflação dos anos 80, já controlada naquele momento.

Ao portal E21, Shaul, 51 anos, conta sua trajetória a partir daquele momento, até criar a startup IBI-Tech, fundada em 2015 para conectar o mercado brasileiro com o ambiente empreendedor de Israel. Numa espécie de continuidade do que ele mesmo um dia fez.

Quando você foi morar em Israel e por quê?

Fiz aliá aos 19 anos, com o intuito de servir o Exército israelense. A decisão foi motivada por razões sionistas. Nasci no Rio de Janeiro e tenho 51 anos, mas fui morar em Israel para viver minha vida no Estado do Povo Judeu.

De que maneira e com qual objetivo você ingressou na área de tecnologia?

Desde criança, sonhava em ser um engenheiro da Nasa (National Aeronautics and Space Administration). Durante o serviço militar, trabalhei com tecnologia, o que aumentou meu interesse na área. Esforcei-me para ingressar no Technion, onde me formei em engenharia de computação e fiz MBA em Inovação e Empreendedorismo. Comecei a trabalhar numa startup chamada Galileo durante meus estudos, que posteriormente foi adquirida pela Marvell, vivenciando assim o ciclo completo de uma startup.

Com essa experiência adquirida, você decidiu fundar a IBI-Tech. Quando foi aberta a IBI-Tech e como a empresa vem se desenvolvendo ao longo do tempo?

A IBI-Tech foi fundada no final de 2015, posicionando-se como o principal player no intercâmbio tecnológico entre Israel e Brasil. Representamos grandes corporações brasileiras em busca de inovação e soluções tecnológicas israelenses.

Quais as principais carências que a IBI busca preencher no intercâmbio tecnológico entre Brasil e Israel?

A IBI-Tech visa a conectar empresas brasileiras ao ecossistema inovador israelense, preenchendo uma lacuna histórica de desconexão. Facilitamos a entrada de empresas israelenses no mercado brasileiro, superando barreiras comuns.

Quais barreiras comuns para a entrada para as empresas israelenses podem e estão sendo superadas?

O Brasil mantém uma série de impostos de importação que chegam a 60% do preço original, tanto em equipamentos como em serviços (isso é um numero muito alto). No passado, Israel assinou um tratado com o Mercosul que isentou os produtos israelenses de pagar o Imposto de Importação (II), que é um dos vários impostos incluídos. Esse tratado deve ser estendido para serviços e software. Tudo que traz tecnologia e incentiva a produtividade e a competitividade brasileiras deve ter redução de impostos.

Segundo recente relatório da Israel Innovation Authority, 40% das novas startups surgem nas áreas de softwares organizacionais, fintechs e cybersecurity. De que maneira isso se encaixa aos interesses do mercado brasileiro?

As startups israelenses, focadas em B2B (empresa com empresa), alinham-se às necessidades brasileiras de melhorar a produtividade por meio de tecnologia. O Brasil precisa de ferramentas que acelerem sua integração competitiva no mercado global. O Brasil necessita de inovação em áreas como Agri-tech, Indústria 4.0 (automação, na 4ª Revolução Industrial), Defesa e Food tech, entre outras, para diversificar e fortalecer sua economia.

Shaul Shashoua e Daniel Skaba

Os brasileiros Shaul Shashoua (esq,) e Daniel Skaba são sócios na IBI-Tech | Foto: Reprodução/IBI-Tech



À sua maneira, o Brasil também avança neste setor. Quais os locais que podem ser referência e contribuir com Israel e por quê?

O Brasil possui pesquisa acadêmica de excelência, destacando-se universidades como Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp) e PUC-RS, que são referências em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

De que maneira, em se tratando de países de dimensões diferentes, Israel poderia ajudar a impulsionar ainda mais o desenvolvimento tecnológico brasileiro?

Israel pode oferecer expertise em transferência de tecnologia e políticas de fomento à inovação, beneficiando o desenvolvimento tecnológico diversificado do Brasil. As indústrias brasileiras podem adotar tecnologias israelenses para aumentar sua competitividade no mercado global, promovendo uma cooperação mutuamente benéfica.

Quais são boas práticas e modelos de políticas de fomento à inovação que podem ser implementadas no Brasil?

Uma delas é aprender com Israel os modelos de transferência de tecnologia das universidades para o setor privado (incentivos, patentes, acordos comerciais). Outra é adaptar os diferentes programas de investimento como o da já citada Israel Innovation Authority, vide os programas especiais sendo lançados agora na guerra. Meu sócio Daniel Skaba (também brasileiro), co-fundador da IBI-Tech, postou que o objetivo deste programa é incentivar a criação de empregos em diversos setores tecnológicos, alavancar o potencial global de Israel e incentivar o estabelecimento e o crescimento de novas startups, aproveitando as vantagens das diferentes regiões geográficas. A diversidade é um fator-chave para fortalecer a competitividade israelense de tecnologia no mundo. No Brasil, com suas dimensões, também há muito espaço para tais iniciativas.

Em quais áreas da P&D a guerra está prejudicando o desempenho e os negócios das startups em Israel?

A guerra impactou a P&D de uma maneira geral, especialmente pela convocação de pessoal acadêmico. Embora haja desafios financeiros, conflitos também podem acelerar inovações específicas.

Quais inovações, por exemplo, foram impulsionadas pelos desafios que a guerra impõe?

Iniciativas como a adaptação de equipamentos militares para necessidades imediatas demonstram a capacidade de inovação rápida em tempos de guerra, incluindo tecnologias para combate subterrâneo. A medicina de combate também viu avanços significativos devido à necessidade de tratar ferimentos atípicos de guerra, impulsionando o desenvolvimento de novos tratamentos.

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