Colunistas
A nova geração não liga mais para os clubes de suas cidades
Por Tarcísio Vasconcellos de Rezende Pinto*
“Campinas F.C., um time irresistível”, esse era o destaque na capa da tradicional Revista Placar em 13 de outubro de 1978. Guarani e Ponte Preta, juntos, formavam uma verdadeira seleção brasileira e disputavam de igual para igual com os chamados “clubes grandes” os principais torneios do país.
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Novembro de 2024, pela primeira vez na história, os rivais são rebaixados simultaneamente para a terceira divisão do futebol brasileiro. Um contraste do passado com o presente que desperta muitos questionamentos, o que acontece com o futebol de Campinas ?
A resposta não é tão fácil e definitiva, mas certamente não pode excluir as desastrosas e amadoras administrações dos dois clubes nos últimos 20 anos, realidade que não é exclusividade campineira, pois o século 21 chegou com muitos clubes seguindo o mesmo roteiro e flertando com rebaixamentos, dívidas e frustrações.
Um outro fator determinante, porém mais sútil, certamente envolve a desvalorização dos campeonatos estaduais e clubes do interior.
Nasci em São José do Rio Preto e na minha infância usava camisas do Rio Preto, muitos amigos usavam do América, e hoje observamos nossas crianças usando camisas do Barça, Real Madrid, City e PSG. Assim também é em Ribeirão Preto onde vivo e em Campinas. Resumo da ópera, a nova geração não liga mais para os clubes de suas cidades.
E por que isso aconteceu ? A resposta não e difícil, vivemos um período de globalização e glamourização do futebol, aonde só tem valor os maiores e mais ricos clubes, e os campeonatos mais rentáveis e televisivos, norteados pelo poder econômico.
Frequentemente ouvimos comentaristas da grande imprensa dos grandes centros, principalmente de São Paulo e Rio de Janeiro, dizendo que um clube só conseguiu ganhar um estadual, usando tons muitas vezes irônicos. Como podemos manter vivo o futebol do interior com tamanha crueldade e desrespeito de parte da Imprensa com os pequenos clubes e campeonatos estaduais ?
As crianças perderam a referência local, situação que ainda compromete as divisões de base, que não mais revelam craques, mais preocupados em completar suas adolescências na Europa.
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Os contrários a essa tese podem argumentar, mas e Mirassol e o Novorizontino, que podem jogar a Série A em 2025 ? Sim, boas administrações ainda são determinantes para bons resultados esportivos, mas por mais capazes que sejam, jamais formarão uma seleção com Carlos, Mauro, Oscar, Polozzi, Odirlei, Zé Carlos, Renato “Pé Murcho”, Zenon, Lúcio, Careca e Tuta, deixando um tal Dicá no banco. Existe glamour maior que o desse esquadrão campineiro?
*Tarcísio Vasconcellos de Rezende Pinto é médico e jornalista formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Estudioso do futebol, possui um museu deste esporte em Ribeirão Preto (SP).
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