Colunistas
Derrota do Flamengo expõe a verdadeira essência do futebol
Desta vez os jogadores não puderam ficar cercando o árbitro, tentando impor seus próprios interesses, como tem ocorrido no futebol brasileiro
Por Eugenio Goussinsky
Tomar um banho de humildade é algo que não faz mal para ninguém. Isso também vale para o Flamengo.
Muitos de seus dirigentes, nos últimos anos, se acomodaram na ideia de que tudo podem. Para não ser injusto, tem sido essa a cultura de boa parte do futebol brasileiro.
E o Flamengo, em sua grandeza, acaba atraindo mais holofotes nestes momentos. Tornando-se uma espécie de símbolo do que tem acontecido. (Crédito da foto: CBF/Jorge Rodrigues/AGIF).
O técnico do Palmeiras, por exemplo, esbraveja dizendo que para ele o mais importante é vencer sempre.
Isso não é competir de forma saudável, na minha opinião.
É tão pouco louvável como o ambiente cruel da Fórmula-1, em que um piloto muitas vezes utiliza qualquer recurso para se sobrepor ao rival, e que costuma ser visto, perigosamente, com naturalidade.
Essa tal obsessão pela vitória vai além e se torna um perigoso retrato de como o futebol tem sido reflexo da sociedade. Um campo fértil para jogadores, treinadores, torcedores e dirigentes se comportarem como adolescentes que nunca podem se frustrar. Um campo para o autoengano individual e coletivo.
Vale até um estudo sociológico sobre a origem dessa arrogância e como os personagens do futebol lidam com o enriquecimento absurdo, com a pressão insana, com a retórica da necessidade da vitória, com o respeito ao adversário e com a fama.
A questão é que, na partida de ontem, sob responsabilidade da Fifa, as distorções que encontram espaço no futebol brasileiro não tiveram vez.
Longe de certas relações cheias de distorções no Brasil, no jogo contra o Al-Hilal, havia muito mais dificuldade para se esbravejar, polemizar, tentar anular a partida, se afastar do interesse coletivo.
Nem havia um árbitro suscetível a jogadores que o cercam, induzindo-o a ser benevolente na próxima jogada.
Não, alheio às mazelas que têm assolado o futebol brasileiro, o romeno Istvan Kovacs não permitiu esses abusos.
Manteve-se de cabeça erguida, sem se intimidar, trabalhando de acordo com a sua própria convicção. Consciente, consultou o VAR apenas quando foi necessário.E o Flamengo foi derrotado por 3 a 2, perdendo a chance de disputar mais uma final de Mundial.
Ter respeito não significa se tornar submisso a uma autoridade. E nem deixar de lutar dignamente pela vitória. É não tentar impor de qualquer jeito o próprio interesse, alinhando as várias funções e identidades que fazem parte de um jogo.
O mais importante é jogar o verdadeiro futebol. Se o futebol se tornou negócio fora de campo, dentro dele continua sendo um esporte. Isso vale para o Flamengo e para todos. Vencendo ou não.
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