Ciência e Tecnologia
EXCLUSIVO: Universidade Bar-Ilan: professor desvenda a ‘fonte da juventude’
Ele conta, em entrevista exclusiva ao Portal E21, detalhes de seu estudo que avançou em descobertas de proteína que combate doenças do envelhecimento
Eugenio Goussinsky
Uma pesquisa do professor Haim Cohen, da Universidade Bar-Ilan, em Israel, avançou no estudo da proteína Sirtuin6 (SIRT6), que desempenha um papel crucial no combate ao processo de envelhecimento e na manutenção da saúde celular. Depois de testado em camundongos, o estudo se aproxima de encontrar uma solução que ajude a combater doenças do envelhecimento.
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Confira a entrevista exclusiva do professor ao Portal E21, com detalhes sobre a descoberta, base de uma “fonte de juventude”. A definição não tem qualquer caráter pejorativo: se refere a um maior bem-estar durante o envelhecimento e, em muitos casos, a um prolongamento da vida para até 120 anos.
Portal E21 – Como você se interessou pela pesquisa sobre longevidade?
Haim Cohen – Meu interesse começou em 2004, quando voltei de Harvard, onde trabalhei com David Sinclair como meu supervisor no pós-doutorado. Desde então, venho me dedicando ao estudo dos mecanismos moleculares que influenciam a longevidade.
O que o levou a focar especificamente na proteína SIRT6?
Eu decidi estudar a SIRT6 porque ela está localizada no núcleo da célula e desempenha um papel crucial na reparação do DNA, um processo essencial para a longevidade. Tinha um background em proteínas similares, como a SIRT1 e a SIR2, e vi potencial em investigar a SIRT6.
Quais foram os primeiros experimentos que você realizou?
Começamos investigando os níveis de SIRT6 sob restrição calórica, já que sabemos que essa prática pode aumentar a expectativa de vida. Descobrimos que uma quantidade maior de SIRT6 sugeria que ela poderia ter um papel regulador na longevidade.
Qual foi o conceito dos experimentos?
Os experimentos incluíram camundongos geneticamente modificados que continham níveis mais altos de SIRT6. Os camundongos foram alimentados com uma dieta que promovia obesidade e os que não tinham níveis elevados de SIRT6 desenvolveram patologias associadas, como aumento de glicose, colesterol elevado e diabetes tipo 2. Aqueles com níveis elevados de SIRT6, no entanto, não apresentaram esses problemas, sugerindo que a SIRT6 pode regular a longevidade e proteger contra doenças relacionadas à idade.
Quais dados sobre longevidade podem ser obtidos desses experimentos?
Como dito, os resultados mostraram que os camundongos com níveis mais altos de SIRT6 eram protegidos contra várias patologias relacionadas à obesidade, como diabetes tipo 2 e inflamações, além de viverem 30% mais do que os camundongos normais.
Quais doenças ligadas ao envelhecimento a SIRT6 pode ajudar a combater?
A SIRT6 tem potencial para ajudar a combater várias doenças relacionadas à idade, entre as quais diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, inflamações crônicas e até certos tipos de câncer. Ela atua na regulação do metabolismo e na proteção contra danos ao DNA, que são fatores críticos no desenvolvimento dessas doenças.
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Como a SIRT6 se diferencia de outras proteínas SIRT, como SIRT1, SIR2 e SIRT3?
Cada proteína SIRT tem funções específicas. Por exemplo, a SIRT1 está envolvida na regulação do metabolismo lipídico e na resposta ao estresse, enquanto a SIR2 tem um papel mais relacionado à regulação do ciclo celular. A SIRT3, por outro lado, está principalmente envolvida na regulação do metabolismo mitocondrial. A SIRT6, por sua vez, é única porque se concentra na reparação do DNA e na regulação da inflamação, o que é fundamental para a longevidade e a saúde celular.
Quantos anos a SIRT6 pode acrescentar à vida de um ser humano?
Baseando-se nas nossas descobertas, se conseguirmos ativar ou aumentar os níveis de SIRT6, podemos potencialmente aumentar a expectativa de vida em até 30%. Isso significa que, em termos humanos, a meta de viver até 120 anos pode se tornar uma realidade alcançável, desde que abordemos os mecanismos relacionados ao envelhecimento.
Você mencionou que estudou o impacto da SIRT6 em diferentes dietas. Como isso se relaciona com a longevidade?
Sim, ao manipular a presença da SIRT6, observamos que ela não só aumentava a longevidade em dietas normais, mas também protegia contra doenças relacionadas ao envelhecimento. Isso é animador, pois indica que a regulação dessa proteína pode ser uma chave para promover uma vida mais saudável e longa.
Como suas pesquisas se aplicam ao entendimento das doenças relacionadas à idade?
Descobrimos que a SIRT6 tem um papel importante na regulação do metabolismo e na prevenção de doenças como diabetes e câncer, que são comuns com o avanço da idade. Essa proteína ajuda a manter a saúde celular e a longevidade.
É possível traduzir essas descobertas em tratamentos para humanos?
Sim. Estamos trabalhando com uma empresa chamada SirTLab, estabelecida com base em nossos estudos e que visa a desenvolver métodos para ativar ou aumentar os níveis de SIRT6 em humanos. Nossos estudos pré-clínicos mostram resultados promissores na proteção contra danos metabólicos.
Quão longe você acha que estamos de ter esses tratamentos disponíveis?
Estamos bastante perto. A próxima etapa em nosso laboratório envolve testes de segurança em modelos animais, seguidos por ensaios clínicos em humanos. Isso pode acontecer em menos de dois anos, se tudo correr bem.
Você acredita que podemos alcançar a imortalidade?
Infelizmente, acho que isso não é viável atualmente. A questão da imortalidade envolve muitas considerações éticas e sociais. No entanto, aumentar a expectativa de vida e promover a saúde ao longo da vida é algo que considero necessário e possível.
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Pode nos dar um exemplo de como as mudanças nos últimos 100 anos impactaram a mortalidade?
Antes da descoberta dos antibióticos, 70% das mortes eram causadas por infecções. Com a introdução dos antibióticos, a maioria das mortes passou a estar relacionada a doenças relacionadas à idade. Isso mostra que, se conseguirmos manipular os mecanismos básicos do envelhecimento, podemos impactar significativamente as doenças relacionadas à idade.
Para concluir, qual é a mensagem que você gostaria de transmitir sobre suas pesquisas?
Acredito que ao focar na compreensão dos mecanismos de envelhecimento, como a SIRT6, podemos não apenas aumentar a expectativa de vida, mas também melhorar a qualidade dessa vida. O futuro da pesquisa em longevidade é promissor e está se movendo rapidamente para a aplicação clínica.
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