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Universidade de Jerusalém: curso mantém vivo o ladino, língua dos antepassados de Silvio Santos
Curso ofereceu oportunidade de conhecer o idioma dos tempos da Península Ibérica e de se conectar com a herança judaica sefaradita
Eugenio Goussinsky
A Universidade Hebraica de Jerusalém lançou sua primeira Escola de Verão Internacional de Ladino, um programa intensivo projetado para preservar o ladino, língua ameaçada de extinção. A tradicional língua foi utilizada pelos judeus na Península Ibérica, principalmente durante os séculos 14 e 15. Nela, termos medievais em espanhol, na Espanha, e português, em Portugal, são escritos com letras hebraicas.
Foi a língua falada por Isaac Abravanel, patriarca da família de Silvio Santos, até a expulsão dos judeus da Espanha, em 1492. O objetivo do curso, que atraiu alunos do mundo inteiro, é oferecer uma oportunidade de mergulhar nos estudos da língua ladina e se conectar com a rica herança judaica sefaradita, termo que se refere aos descendentes de judeus originários de Portugal e Espanha. Sefarad é a denominação hebraica para designar a Península Ibérica.
“O ladino é classificado como uma língua em sério perigo de extinção”, afirma o Dr. Ilil Baum, professor de ladino na Universidade Hebraica de Jerusalém e na Universidade Bar-Ilan. “As gerações mais jovens não o estão mais herdando e, hoje, é principalmente uma língua de nostalgia, associada a tradições familiares, culinária e folclore.”
O curso de duas semanas reuniu 28 alunos, com aproximadamente metade deles de Israel e outros de todo o mundo, Estados Unidos, Europa e Ásia. Os participantes realizaram estudos diários de gramática, vocabulário e história cultural do ladino. Muitos participantes foram atraídos pelo desejo de se reconectar com suas raízes familiares.
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“É comum a comunidade judaica criar línguas nos lugares em que ela se estabeleceu, como uma forma de proteção e também para manter a tradição”, afirma ao Portal E21 o professor Moacir Amâncio, doutor em Literatura Hebraica pela Universidade de São Paulo.
O curso também trouxe aos alunos a rara oportunidade deles se envolverem em conversas diretas com falantes veteranos de ladino, ao proporcionar uma compreensão mais profunda da história viva da língua.
Tal interação enriqueceu as habilidades linguísticas dos alunos e os conectou a uma narrativa cultural mais ampla, que transcende fronteiras.
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“Este curso promovido pela Universidade Hebraica de Jerusalém é uma ótima iniciativa no sentido de divulgar essa língua que está em extinção e trazer para o atual momento uma importante parte da história judaica”, observa o professor Amâncio. Ladino vem de ladinar, ler, estudar, em língua latina.
Língua se espalhou para outros países
Antes, na Península Ibérica, os judeus já conviveram com os árabes (como já haviam convivido anteriormente, no Oriente Médio) que dominavam a região. Foi o tempo em que viveu Maimônedes (1135/38 – 1204), rabino, filósofo e proeminente estudioso da Torá.
Ainda que com alguns momentos de perseguição, muitos judeus atuavam como conselheiros. Assim como foram criadas versões em árabe do Antigo Testamento, houve traduções bíblicas também em ladino.
Depois da expulsão dos judeus da Península Ibérica, e quatro anos depois (1496) de Portugal, a comunidade se espalhou por países como Itália, Grécia, Bulgária, Holanda, Áustria ou para a costa norte da África no Marrocos sob domínio muçulmano.
A maioria, cerca de 50 mil, se deslocou para a Turquia. O total de expulsos está entre 40 mil e 100 mil, segundo o Beit Chabad.
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O ladino continuou a ser falado pelos judeus em locais como Amsterdã (Holanda), na Inglaterra e na Itália. Por estarem mais em contato com a cultura espanhola, a língua foi mantida com base naquele espanhol medieval. Em outros países, no entanto, ganhou algumas adaptações com palavras locais e até com o hebraico. Isto ocorreu em nações como Turquia, Bulgária e Grécia.
Os pais de Silvio Santos (Senor Abravanel) eram Alberto, vindo da Grécia, e Rebeca, vinda da Turquia. Ambos se encontraram no Brasil. Alberto era descendente de Isaac, que, na expulsão dos judeus da Espanha, foi para a Grécia.
“Os antepassados de Silvio Santos falavam essa língua, como toda a comunidade judaica da época”, afirma Amâncio.
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