Ciência e Tecnologia
Descoberto túmulo que guarda segredos sobre a origem do Império Mongol
Universidade Hebraica de Jerusalém integrou trabalho de escavação que encontrou túmulo de mulher idosa e ajuda a elucidar as disputas pelo poder na época
Eugenio Goussinsky
Um túmulo de elite datado do período pré-mongol foi descoberto na Província de Dornod, Mongólia, por um grupo de arqueólogos, liderado pelos professores Gideon Shelach-Lavi da Universidade Hebraica de Jerusalém, Amartuvshin Chunaga da Universidade Nacional da Mongólia e William Honeychurch da Universidade de Yale, Estados Unidos.
Esta descoberta, que integra o Projeto Arqueológico Mongol-Israeli-Americano, ajuda a elucidar uma era pouco compreendida no planalto mongol, que abrange do colapso do Império Kitan-Liao por volta de 1125 d.c até a ascensão do Império Mongol sob Gengis Khan em 1206 d.c.
O túmulo passou a ser conhecido como sepultamento de Khar Nuur. Foi achado dentro das muralhas de uma fortaleza da era Kitan (916 d.c-1125 d.c). Provavelmente data de depois do uso da fortaleza que a cerca e contém restos mortais de uma mulher idosa. Isto sugere que ela pertencia a uma linhagem prestigiosa com significativo poder político.
A descoberta oferece dados cruciais sobre as comunidades locais, suas redes e organização durante o século 12. Foi um período marcado por desestabilização pós-imperial e intensa competição política. O achado fornece ainda evidências valiosas das mudanças culturais e políticas que ocorreram antes da ascensão do Império Mongol.
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“O sepultamento de Khar Nuur representa uma janela única para o complexo cenário social e político da Mongólia do século XII”, acrescentou o Prof. Shelach-Lavi. “Demonstra como as elites locais podem ter usado conexões simbólicas com impérios passados para legitimar seu próprio poder e status, mesmo enquanto navegavam em um ambiente político em rápida mudança.”
Desde 2018, o Projeto Arqueológico Mongol-Israeli-Americano realiza pesquisas e escavações ao longo das “longas muralhas” da fronteira Kitan no nordeste da Mongólia. A descoberta do sepultamento de Khar Nuur é uma das mais significativas do projeto.
“Esta contribuição arqueológica, primeiramente, desfaz o mito de que o império mongol e suas estruturas de organização em poder eram vinculados ao nomadismo, o que remetia a uma impressão primitiva dessa sociedade”, afirma o professor Danilo Porfírio de Castro Vieira, pós-doutor em Letras Orientais pela Universidade de São Paulo.
“Este mito que vincula o império ao nomadismo cai por terra em função dos achados, que demonstram uma complexidade relacional, uma estrutura de poder extremamente organizada, institucionalizada, com, inclusive, tensões na elite e a lógica da fixação de poder à terra.”
Vasto império
Posteriormente, com o surgimento do Império Mongol, com Gengis Khan (cujo nome original é Temujin), em 1206, o vasto império atravessava continentes. Houve a unificação consolidada das tribos nômades, dentro do processo citado por Castro Vieira.
O Império Mongol, assim, uniu o Oriente ao Ocidente, o Pacífico ao Mediterrâneo. Criou condições para o intercâmbio cultural, a troca de comércio, tecnologias, mercadorias e informações entre os integrantes da chamada Eurásia.
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“O Império Mongol, cujos sinais já estavam presentes nesta importante descoberta arqueológica, consolidou os elos entre o Oriente e o Ocidente, um império que se estendeu do mar da China, do mar da Coreia, até regiões que hoje nós chamamos de Bulgária, Romênia, Hungria, passando, inclusive, pelo império do califado islâmico, o Abássida.”
Isto, segundo Castro Viera, demonstra a importância do império no intercâmbio cultural e econômico da época e afasta a ideia de ruptura com o Ocidente.
“O Império Mongol se apropriou dos domínios do califado Abássida. Com isso, a ideia dos zelos culturais e econômicos entre o Oriente e o Ocidente se consolidam, inclusive, por meio do Império Mongol, o que desfaz qualquer ideia de de afastamento ou de atraso.”
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