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Pessach (Páscoa judaica), Páscoa cristã e o mundo atual: por que precisamos falar disso?

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Pessach Egito judeus judaísmo
O Pessach celebra a saída dos judeus do Egito, onde eram escravos | Foto: IA/Portal E21

Por Marcos Knobel*

Nós estamos no meio das celebrações da Pessach, a Páscoa judaica, uma tradição milenar que relembra a libertação do povo judeu da escravidão do Egito por Moisés, por volta de 1.300 a.C. São dias que envolvem a realização de refeições junto à família e narrativas para reforçar o significado dessa data tão importante para o povo de Israel.

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A comemoração acontece praticamente junto com a Páscoa dos cristãos, que festeja a ressurreição de Jesus Cristo, após ele ter sido crucificado e morto pelos romanos. Existe uma forte correlação entre essas duas festas. Dizem que a última ceia de Jesus foi durante uma seder, uma refeição considerada um ritual da Pessach, que na Páscoa Cristã está ligada à última vez que Jesus se sentou à mesa com seus apóstolos.

Celebrar a Pessach, além de jogar luz a esse momento tão importante da trajetória dos judeus ao longo da história, tem muito a ver com o momento em que vivemos no mundo atualmente. Atravessamos um período difícil, no qual a intolerância, o antissemitismo e o preconceito tomam conta da sociedade. Desde o atentado de 7 de outubro de 2023 praticado pelo grupo terrorista Hamas contra os israelenses, essa onda se intensificou fortemente não somente em Israel, mas globalmente.

A intenção do Hamas, se fosse possível, era destruir não somente o povo de Israel, mas a cultura ocidental como um todo. Isso é algo sério, que merece uma reflexão. Esse não é somente um desejo somente desse grupo terrorista, mas de outros que historicamente atacam os demais povos querendo impor suas regras. Basta revisitar a história, não tão longínqua – muito pelo contrário – e conferir episódios que incluem grupos extremistas como o Hezbollah, Al-Qaeda, entre outros. Quem não se lembra do atentado de 11 de setembro? Impossível de ser esquecido!

O primeiro relato de genocídio contra os judeus que consta na Torá, a Bíblia judaica, envolve a ordem do Faraó, rei do Egito, para lançar todos os bebês do sexo masculino recém-nascidos fossem mortos e lançados ao rio Nilo, com medo de que um dia os israelitas fossem muito numerosos e dominassem o Egito. Por isso, fez os judeus se tornarem seus escravos.

Da mesma forma como Jesus foi resiliente ao se sentir perseguido, ao pregar a palavra de Deus, o povo judeu também foi perseguido e praticou a resiliência, algo marcante em sua postura até os dias de hoje. Após serem libertados, durante 40 anos os israelitas vagaram pelo deserto do Sinai, onde formaram uma nação e receberam a Torá. Séculos depois, fugiram da Terra Santa, devido a invasões de povos inimigos e perseguições – episódio conhecido como diáspora – e somente puderam retornar a Israel a partir de 1948.

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Depois aconteceu o Holocausto, outro episódio difícil que demandou mais uma vez que o povo judeu fosse resiliente – milhares de vidas do povo de Israel foram ceifadas pelos nazistas. O mesmo sentimento foi vivenciado novamente em outubro de 2023, quando o Hamas invadiu Israel e matou cerca de 1200 judeus e sequestrou mais 250 – ainda há 59 nas mãos deles e não vamos sossegar enquanto todos estiverem de volta para suas famílias.

É uma história inteira marcada por episódios como esses, que testam e tornam a resiliência do povo judeu cada vez mais forte. E levo isso também para a sociedade como um todo: o quanto temos que ser resilientes o tempo todo para lidar com as dificuldades da nossa vida, seja no trabalho, na família e na sociedade.

Na Pessach nós festejamos a liberdade e gostaríamos que esse sentimento também fizesse parte dos tempos atuais, com o povo judeu e a sociedade como um todo podendo exercer seus princípios e vontades, sem medo de serem atacados o tempo todo.

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Independentemente do credo ou religião, o momento que marca os próximos dias é de reflexão para todos nós. Que possamos sentar à mesa com nossos familiares e amigos, tanto na Pessach quanto na Páscoa cristã, e celebrar a união, o amor, a tolerância, o respeito e a renovação.

Tenho certeza de que a Força Divina estará olhando por todos nós. Como diz a Hagadá, livro lido durante a cerimônia de Pessach: “não apenas um se levantou para nos aniquilar, mas em todas as gerações se levantam para nos aniquilar. Mas o Todo Poderoso, bendito seja o Seu nome, nos salva de suas mãos”.

Chag Pessach Sameach! Feliz Páscoa!

*Marcos Knobel é presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp).

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