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Roy Keane tem todo o direito de expressar sua opinião

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Ex-jogador que criticou dança dos brasileiros nas comemorações não ofendeu e não depreciou o futebol brasileiro ao dar sua opiniãoPor Eugenio Goussinsky.

Ultimamente tem-se falado muito em liberdade de expressão. Confunde-se, com más intenções, o termo com a liberdade de mentir, de insultar, de cometer crimes por meio de palavras, como a defesa do nazismo e as ofensas racistas.

No caso das críticas de Roy Keane à danças dos jogadores brasileiros nas comemorações de gols contra a Coréia do Sul (crédito da foto: CBF), no entanto, está havendo um desrespeito à liberdade de expressão do ex-jogador.

Neste caso, tem prevalecido uma espécie de nacionalismo inapropriado, apegado a um radicalismo que padroniza opiniões, arvorando-se na ilusão de ser libertário.

Também discordo de Keane e considero legítima a manifestação dos jogadores, apesar de acreditar que muitos deles têm se mantido muito imersos no lado superficial das redes sociais e das performances do TikTok.

Mas, em relação à sua opinião, vale a máxima tão repetida entre os defensores da liberdade de expressão, criada por Evelyn Beatrice Hall, com o objetivo de ilustrar as crenças de Voltaire, na biografia que fez sobre o autor , chamada “Amigos de Voltaire”

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”, escreveu Hall.

Essa onda de indignação acabou se transformando em uma guerra de retóricas, descambando até para ofensas: jornalistas perguntaram “qual a relevância dele para falar isso?”.

Um técnico o chamou de arrogante. Um comentarista debochou da opinião, dizendo que o ex-jogador não sabe se divertir.

Até mesmo, sem perceber, um outro apresentador minimizou a opinião vinculando-a ao fato dele ser “irlandês”. Artigos destrincharam sua carreira, lembrando brigas no clube e o acusando de ser um jogador violento.

Foi uma avalanche um tanto desrespeitosa, alimentada justamente por aqueles que proclamam o direito à liberdade de expressão.

Keane, na verdade, não ofendeu ninguém, não depreciou o futebol brasileiro, não utilizou termos racistas, não demonstrou a tão evidente inveja que muitos europeus sentem do nosso futebol.

E a essa inveja, muitas vezes nociva, nunca vi ninguém que agora ataca Keane se voltar contra com o mesmo ímpeto.

Ninguém se rebela quando jogadores brasileiros são perseguidos, de forma explícita ou velada, em clubes europeus.

Pelo contrário, desconsideram essa perseguição e a atribuem muitas vezes exclusivamente à índole do jogador, como no caso de Gabigol, que mal teve oportunidades na Europa e deixou o futebol local com o rótulo de fracassado.

Enquanto isso, esses mesmos críticos se derretem por tudo que acontece no futebol europeu, colocando-o no Olimpo, passando pano para todo o movimento contrário ao futebol brasileiro, que há décadas vigora no continente e que ajudou o Brasil a se enfraquecer futebolisticamente por alguns anos.

Talvez a revolta contra Keane seja um símbolo de que essa subserviência esteja começando a ser desconstruída.

Neste caso, é algo positivo. Mas, como toda transformação, às vezes leva tempo para o amadurecimento. E, neste processo, é comum os envolvidos buscarem encaixar o objetivo certo em um alvo errado, passando por cima até da liberdade de expressão.

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