Ciência e Tecnologia
EXCLUSIVO: Weizmann: Como está a cooperação entre os homens?
Professor do instituto israelense explica ao Portal E21 o estudo que compara o trabalho em conjunto de um grupo de humanos com um de formigas; confira os resultados
Eugenio Goussinsky
Um estudo do Instituto Weizmann, em Israel, revela que as formigas são mais eficientes que os humanos ao cooperarem para realizar tarefas complexas. Pesquisadores do Instituto, liderados pelo professor Ofer Feinerman, realizaram uma pesquisa para comparar como formigas e humanos cooperam para mover uma carga em um labirinto.
O experimento, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), avalia qual espécie se sai melhor ao enfrentar desafios que exigem cooperação.
O experimento
Os cientistas recriaram o “puzzle dos carregadores de piano”, um problema clássico de computação, no qual um objeto de formato incomum precisa ser movido por um espaço complexo. No estudo, o objeto a ser transportado era um grande item em forma de T, e os participantes – humanos e formigas – precisavam atravessar um labirinto composto por três câmaras conectadas por fendas estreitas.
“As formigas são melhores que os humanos em cooperação no contexto do nosso experimento, não é uma afirmação geral”, afirma ao Portal E21 o professor Feinerman.
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Foram criados dois tipos de labirinto, ajustados para as dimensões das formigas e dos humanos. Os humanos participaram como voluntários, enquanto as formigas da espécie Paratrechina longicornis foram atraídas pela ilusão de um pedaço de comida a ser transportado para o ninho.
Metodologia
As formigas foram testadas em três diferentes configurações: uma sozinha, um pequeno grupo de sete e um grande grupo com 80 indivíduos. Os humanos enfrentaram o desafio nas mesmas condições: um indivíduo, um grupo pequeno de seis a nove pessoas e um grupo maior de 26.
Para garantir a comparabilidade, os humanos não podiam se comunicar verbalmente ou por gestos. Usaram máscaras e óculos escuros, e foram instruídos a segurar a carga apenas pelas alças, imitando o comportamento das formigas. A força aplicada por cada participante foi medida durante todo o experimento.
Resultados
No desafio individual, os humanos superaram as formigas com facilidade, usando planejamento estratégico. Porém, no trabalho em grupo, as formigas se destacaram.
“Como entendemos, as formigas têm facilidade em cooperar exatamente porque são simples”, afirma Feinerman.
“Ser simples significa que todas as formigas veem o problema de maneira muito parecida. O que as formigas entendem é que estão em um contexto onde algo grande deve ser carregado em conjunto – nada mais.”
Grupos de formigas, especialmente os maiores, não apenas superaram as formigas sozinhas, como também foram mais eficientes do que os humanos. Elas utilizaram memória coletiva, o que as ajudou a evitar erros repetidos e a manter um comportamento mais estratégico.
Feinerman explica que todas as formigas seguem o mesmo “manual de regras”.
“Isso reduz a confusão ou incerteza e torna a cooperação mais fácil. Além disso, esse “manual de regras” que as formigas usam evoluiu por mais de 100 milhões de anos para ser muito simples, mas também muito eficiente.”
Os humanos não melhoraram seu desempenho quando estavam em grupo. Quando a comunicação foi restringida, emulando o comportamento das formigas, o desempenho dos humanos até diminuiu. Eles buscaram soluções rápidas e superficiais, que não foram eficazes a longo prazo.
“Indivíduos humanos são muito mais avançados que as formigas e, ao contrário delas, podem resolver o problema sozinhos”, ressalta o professor do Weizmann.
Essa “sofisticação” humana, no entanto, parece ter um preço para a cooperação.
“Pessoas diferentes podem ver o problema de maneira diferente e ter estratégias de solução distintas. Isso significa que, quando as pessoas se agrupam, o problema do consenso surge.”
Ele ressalta que foi constatado que, na verdade, em um grupo, as pessoas colocam o consenso acima de qualquer outra consideração.
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“Descobrimos que, em grupo, as pessoas abandonam suas opiniões pessoalmente pensadas e optam pela solução mais simples e imediata, em vez de tomar a melhor decisão. De fato, até mesmo em um grupo onde a grande maioria das pessoas pensa de uma maneira, o grupo acaba fazendo outra coisa – o que foi muito surpreendente. De qualquer forma, o fato de as pessoas se “empobrecerem” faz com que elas sejam piores em cooperação.”
Comunicação
Neste estudo, a comunicação entre as pessoas não foi benéfica. Tampouco a falta dela.
“Mesmo que a comunicação seja livre, ainda assim é difícil chegar a uma boa solução em um grande grupo”, diz Feineman. Eu acho que a comunicação entre várias pessoas tem muitas dificuldades. Você poderia pensar que um grupo comunicativo pode ser tão rápido quanto seu membro mais rápido ou até mais rápido – mas não: eles são como a pessoa média. Então, a comunicação pode não ser tão benéfica assim.
Já em um grupo sem comunicação, prossegue o professor, o problema deixa de ser as longas discussões causadas por pessoas defendendo suas próprias opiniões.
“Na verdade, as pessoas quase não brigam, elas simplesmente abandonam suas opiniões, se “empobrecem” e, dessa forma, chegam a um (mau) consenso em menos de um segundo.”
Vários autores conseguiram unir forças neste estudo. São eles: doutor Ehud Fonio, do grupo de Feinerman no Departamento de Física de Sistemas Complexos do Weizmann, professor Nir Gov, do Departamento de Física Química e Biológica do Weizmann, o doutor Amir Haluts, então um estudante de doutorado supervisionado por Gov, e o professor Amos Korman, da Universidade de Haifa. Bom exemplo de como a cooperação entre os homens, quando eles querem, pode ser positiva.
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