Ciência e Tecnologia
Weizmann: fungo encontrado no intestino humano pode evitar grave doença
Estudo mostra que microrganismo também está presente no intestino de ratos; as análises indicaram que ele tem a capacidade de substituir a levedura causadora da candidíase invasiva
Eugenio Goussinsky
Em uma das suas composições, Lulu Santos já dizia: “E toda raça então experimentará
para todo mal, a cura.” Cada vez mais a ciência avança em descobertas que mostram que o ser humano tem a capacidade de curar a si mesmo. Uma levedura que pode ser usada para evitar a ocorrência de uma grave doença intestinal foi descrita por pesquisadores do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel. A candidíase invasiva se tornou uma das principais causas de morte em pacientes hospitalizados e com comprometimento imunológico.O estudo foi publicado no Journal of Experimental Medicine (JEM). Ficou constatado que a nova levedura vive inofensivamente nos intestinos de ratos e de humanos. Até então, sabia-se apenas a respeito dos animais de laboratório.
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Esta nova espécie pode substituir a levedura responsável pela candidíase, denominada Candida albicans (C. albicans), o que iria prevenir a doença. As leveduras são organismos unicelulares microscópicos, dentro do reino dos fungos. São similares aos bolores e aos cogumelos.
Os pesquisadores batizaram a nova espécie de Kazachstania weizmannii (K. weizmannii), em homenagem a Chaim Weizmann, primeiro presidente de Israel e fundador do Instituto Weizmann
“O objetivo do fungo é viver, não é prejudicar”, afirma ao Portal E21 o professor Steffen Jung, que conduziu as pesquisas. “Parece que o Kazachstania weizmannii encontrou uma maneira de fazer exatamente isso, como muitas microbiatas comensais.”
A microbiata comensal é o conjunto de microrganismos que atua, entre outros, no metabolismo de produtos alimentares.
A descoberta, como é comum no meio científico, ocorreu por acaso, quando Jung e colegas do Instituto Weizmann notaram que alguns de seus camundongos de laboratório não estavam colonizando a C. albicans, mas carregavam uma espécie de levedura até então desconhecida.
“Sabendo que C. albicans pode causar doenças potencialmente fatais, decidimos investigar mais a fundo”, disse Jung. “E, de fato, esta linha de investigação urrou efeito, descobrimos que a nova levedura poderia prevenir de forma intensa a colonização por C. albicans.”
O Weizmann informa que milhões de espécies microbianas vivem dentro ou sobre o corpo humano. Muitas são inofensivas ou mesmo benéficas para a saúde humana. Entre elas estão várias espécies de leveduras, que pertencem ao reino dos fungos.
A C. albicans costuma ser encontrada nos intestinos e nas cavidades internas do corpo. Em geral ela é benigna. Em alguns casos, porém, pode crescer demais e causar infecções superficiais conhecidas como candidíase.
Na candidíase invasiva, sob certas circunstâncias, a levedura pode penetrar na barreira intestinal e infectar o sangue ou órgãos internos. Trata-se de uma condição perigosa, em geral observada nos ambientes de saúde, especialmente em pacientes com imunidade comprometida. As taxas de mortalidade são de até 25%.
Weizmann analisa a cura pelo organismo humano
A equipe do Weizmann foi além nos trabalhos. Identificou o K. weizmannii e outras espécies semelhantes em amostras de intestino humano. Os dados preliminares sugerem que a presença de K. weizmannii era análoga à de espécies de C. albicans. Isso indica que as duas espécies também poderiam competir entre si no intestino humano, embora estes resultados precisem ser comprovados por análises adicionais.
“Em virtude de sua capacidade de competir com sucesso com a C. albicans no intestino de camundongos, a K. weizmannii reduziu a presença de C. albicans e mitigou o desenvolvimento de candidíase em animais imunossuprimidos”, diz Jung. “Esta competição entre as espécies pode possivelmente ter valor terapêutico para o manejo de doenças humanas causadas pela C. albicans.”
Ao Portal E21, Jung ainda destacou que tal situação reflete “a capacidade de o organismo humano ser fonte de soluções para várias doenças.” Algo que, cada vez mais, está sendo estudado.
Ele, inclusive, não descarta uma ancestralidade entre o ser humano e os ratos, pelo fato da levedura ter sido encontrada no intestino de ambas as espécies.
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“Não sou especialista nesta área, mas acho que isso indica que o rato e o intestino humano são ecossistemas semelhantes, de modo que ambos permitem o crescimento do fungo [levedura]”.
A descoberta pode abrir o caminho para a cura de outras doenças.
“Nossa compreensão da micobiota ainda está em seus primórdios”, afirma a cientista Rebecca A. Drummond, ao relatar tal estudo em artigo para o JEM. “No entanto, este campo é muito promissor para novas descobertas e potencial terapêutico. A última década produziu várias descobertas interessantes que demonstraram a importância dos comensais fúngicos e como eles instruem o sistema imunológico.”
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