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Ciência e Tecnologia

Universidade de Tel Aviv: a um passo de superar a paralisia

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Homem paralisia método medula espinal
Método já foi aprovado para testes pelo Ministério da Saúde de Israel | Foto: IA/Portal E21

Em entrevista exclusiva ao Portal E21, Gil Hakim, CEO da Matricelf, cita o Brasil como um dos países que serão beneficiados; objetivo é implantar medula espinhal humana em pacientes, para a recuperação dos movimentos

Por Eugenio Goussinsky

O primeiro paciente do mundo, com paralisia, a se submeter a uma cirurgia para recuperar os movimentos será israelense. A informação é da Universidade de Tel Aviv, que desenvolveu um método de implante da medula espinhal humana personalizada em um paciente paralisado, com o objetivo de permitir que ele se levante da cadeira de rodas e volte a andar.

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O avanço foi conduzido pelo professor Tal Dvir, diretor do Centro Sagol de Biotecnologia Regenerativa, chefe do Centro de Nanotecnologia da Universidade de Tel Aviv e cientista-chefe da empresa de biotecnologia Matricelf.

Em entrevista exclusiva ao Portal E21, Gil Hakim, CEO da Matricelf, cita o Brasil como um dos países que serão beneficiados. (Abaixo, link de Refua Shelema, Baruch Levine).

“Nosso trabalho é focado em lesões traumáticas da medula espinhal, o tipo de paralisia causada por acidentes de carro, quedas ou lesões esportivas”, afirma o especialista. “Esses acidentes representam mais de 90% dos novos casos no mundo. Só no Brasil, cerca de 4 mil pessoas sofrem uma lesão medular a cada ano, e aproximadamente 150 mil vivem com paralisia.”

Ele ressalta que o tratamento busca restaurar o movimento e a sensibilidade, independentemente do local da lesão.

“Em lesões torácicas, nosso objetivo é recuperar o controle das pernas e do tronco; em lesões cervicais, buscamos restaurar o movimento dos braços, mãos e pernas, ajudando os pacientes a reconquistar independência e dignidade.”

O objetivo é ousado. Mas, segundo Hakim, plausível. Se obtiver êxito, representará finalmente uma solução para aqueles tristes e conhecidos casos de pessoas que ficam tetraplégicas e paraplégicas para o resto da vida.

“Nossa pesquisa foi desenvolvida para a fase crônica da paralisia, muito tempo depois do acidente”, afirma Hakim. “Em estudos com animais que simulam paralisia de longo prazo, o tecido implantado permitiu que mais de 80% dos animais voltassem a andar algumas semanas após a implantação.”

Ele ressalta que, mesmo com o avanço, o sucesso da cirurgia também depende das condições do paciente.

“É claro que a recuperação depende da saúde, idade e histórico de reabilitação de cada pessoa”, ressalta o CEO. “Aqueles que mantiveram o tônus muscular e alguma mobilidade por meio de fisioterapia podem se beneficiar mais. A mensagem principal é que a recuperação — antes considerada impossível — agora é cientificamente alcançável, e estamos trabalhando para comprová-la em seres humanos.”

Se bem-sucedida, prossegue Hakim, essa tecnologia poderá transformar a forma como a paralisia é tratada, mudando de uma abordagem baseada apenas na reabilitação para uma reparação biológica real.

“Os mesmos princípios poderão, no futuro, ajudar pacientes que sofreram acidente vascular cerebral (AVC) ou lesão cerebral traumática, reconstruindo o tecido neural danificado a partir das próprias células do paciente.”

Literalmente, com a descoberta, parafraseando o astronauta Neil Amstrong ao chegar à Lua, a humanidade estaria dando um enorme “passo”, junto com o paciente.

“Ainda não podemos evitar os acidentes, mas estamos trabalhando por um futuro em que uma lesão na medula espinhal deixe de significar uma sentença de paralisia para toda a vida.”

Técnica aprovada

A técnica já foi aprovada pelo Ministério da Saúde de Israel e será testada em oito pacientes.

“Estamos altamente confiantes neste processo”, afirma Dvir. “Nosso objetivo é ajudar pacientes paralisados a se levantarem de suas cadeiras de rodas. Os testes em modelos animais mostraram sucesso extraordinário.”

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A cirurgia é a mais recente etapa em um processo iniciado há três anos, quando o laboratório do professor Dvir criou uma medula espinhal humana tridimensional em laboratório. Os resultados, publicados na revista Advanced Science, mostraram que ratos com paralisia crônica voltaram a andar após o tratamento.

Para o transplante, células sanguíneas do paciente passam por reprogramação genética, tornando-se semelhantes a células-tronco embrionárias, capazes de se transformar em qualquer tipo celular.

Tecidos adiposos fornecem componentes como colágeno e açúcares para criar um hidrogel, onde essas células crescem simulando a formação de uma medula espinhal.

A tecnologia permite reconstruir a medula lesionada: o tecido cicatricial é removido, a medula artificial implantada e, com o tempo, ocorre fusão com as regiões saudáveis acima e abaixo da lesão. Em modelos animais, os resultados foram notáveis, com ratos recuperando a capacidade de andar. (Abaixo, link de Hero, Mariah Carey).

O professor Dvir explica: “A medula espinhal transmite sinais elétricos do cérebro aos músculos. Quando é cortada, como em acidentes ou ferimentos de combate, essa comunicação é interrompida. Pense em um cabo elétrico cortado: o sinal não passa.”

Ele complementa: “Essa lesão não possui capacidade regenerativa natural. Neurônios não se dividem nem se renovam. Com o tempo, o dano vira tecido cicatricial, impedindo sinais. O paciente permanece paralisado abaixo da lesão; se for no pescoço, todos os membros podem ser afetados; se na lombar, apenas as pernas.”

Hakim completa: “Este marco traduz pesquisa pioneira em tratamento real. Usar as células do próprio paciente elimina riscos de segurança e posiciona a Matricelf na vanguarda da medicina regenerativa”, ressalta ele, que acrescenta.

“Se funcionar, pode definir um novo padrão de cuidado em reparo da medula espinhal, atendendo a um mercado bilionário sem soluções eficazes. Este é mais que um avanço científico; é um passo para transformar uma área da medicina considerada incurável. Temos orgulho que Israel lidere esse esforço global.”

Paciente israelense

A Matricelf, fundada em 2019, surgiu da tecnologia de engenharia de órgãos desenvolvida pelo professor Dvir e sua equipe na Universidade de Tel Aviv, em parceria com a Ramot, empresa de transferência de tecnologia da universidade. O professor Dvir cofundou a empresa com o doutor Alon Sinai, e o desenvolvimento científico é liderado pela doutora Tamar Harel-Adar.

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Alguns meses atrás, a equipe recebeu aprovação preliminar do Ministério da Saúde de Israel para iniciar os testes de uso compassivo, garantindo que o primeiro paciente do mundo a passar pelo procedimento seria israelense.

“Isso é, sem dúvida, motivo de orgulho nacional”, disse Dvir. “A tecnologia foi desenvolvida aqui em Israel, na Universidade de Tel Aviv e na Matricelf, e desde o início ficou claro que a primeira cirurgia seria realizada em Israel, com um paciente do próprio país.”

 

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