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Ciência e Tecnologia

Universidade de Tel Aviv: o som do silêncio

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Roni Hahn e prof. Karen Avraham células surdez Universidade Tel Aviv
Roni Hahn, doutoranda, e a prof. Karen Avraham trabalaram no estudo da Universidade de Tel Aviv | Foto: Reprodução/Universidade de Tel Aviv

Estudo descobriu uma maneira de tratar a surdez genética, por meio de gene que provoca a degeneração de células responsáveis pela audição e pelo equilíbrio

Por Eugenio Goussinsky

Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv desenvolveram uma técnica de terapia gênica (que insere ou corrige genes) capaz de preservar a audição e o equilíbrio em casos de alterações no ouvido interno. O estudo, publicado como destaque de capa na revista EMBO Molecular Medicine, mostrou resultados positivos em testes com animais e pode servir de base para novos tratamentos contra mutações que levam à perda auditiva.

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A investigação foi liderada pela professora Karen Avraham, decana da Faculdade Gray de Ciências Médicas e da Saúde, e pela doutoranda Roni Hahn. Também participaram Jeffrey Holt e Gwenaëlle Géléoc, do Hospital Infantil de Boston e da Harvard Medical School. O projeto contou com financiamento da Fundação Binacional de Ciência EUA-Israel (BSF), do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH/NIDCD) e do Programa de Pesquisas Inovadoras da Fundação de Ciência de Israel. (Abaixo, link de The Sound of Silence, com Simon e Garfunkel).

O foco dos cientistas foi o gene Clic5, essencial para manter a estabilidade das células ciliadas, que são responsáveis tanto pela audição quanto pelo equilíbrio. A deficiência nesse gene provoca a degeneração progressiva dessas células, causando primeiro perda auditiva e, mais tarde, problemas no sistema vestibular (que rege o equilíbrio e a orientação).

Para enfrentar o problema, foi usada uma versão aprimorada do vetor viral AAV (vírus adenoassociado, modificado geneticamente), chamada scAAV, que conseguiu introduzir o material genético de forma mais rápida e eficiente, em doses menores que as convencionais. Em animais, essa abordagem impediu a degeneração celular e manteve as funções auditivas e de equilíbrio.

“O AAV é um vetor viral modificado que carrega o gene que se deseja substituir, neste caso, o Clic5”, conta a professora Karen, ao Portal E21.

“Inserimos o gene ‘normal’ nas células ciliadas do ouvido interno, de modo que o DNA passasse a fornecer uma sequência funcional. Esses vetores utilizam a capacidade natural do vírus de entrar nas células para entregar a sequência correta do gene, restaurando assim a função normal.”

Ela explica onde está o êxito do estudo.

“Como inserimos a sequência de DNA ‘correta’ precocemente, antes que ocorresse o dano celular, conseguimos evitar a degeneração das células e, dessa forma, preservar funções auditivas e de equilíbrio saudáveis.”

Segundo ela, o scAAV é uma versão avançada e estruturalmente otimizada do vetor AAV, que já havia sido utilizado com sucesso em outras doenças, incluindo doenças oculares.

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Karen revela também onde está a inovação no estudo.

“Esta é a primeira vez que ele é usado no ouvido interno”, prossegue a cientista. “Essa forma de AAV chamada scAAV, que usamos, nunca havia sido utilizada no ouvido interno. Além disso, conseguimos corrigir tanto a audição quanto o equilíbrio em um modelo de surdez e disfunção de equilíbrio humana. Na maioria das vezes, apenas uma dessas funções, e não ambas, é corrigida.”

O ouvido interno, acrescenta Karen, é formado por dois sistemas altamente coordenados: o auditivo, que capta e transmite sinais sonoros ao cérebro, e o vestibular, que garante a orientação espacial e o equilíbrio. Diversas alterações genéticas podem prejudicar esses mecanismos, resultando em perda auditiva neurossensorial e dificuldades de equilíbrio”, afirma a cientista. (Abaixo, link de Anthem, com Leonard Cohen).

“A perda auditiva, de fato, é o distúrbio sensorial mais comum no mundo, e mais da metade dos casos congênitos tem origem genética. Neste estudo, buscamos investigar uma terapia gênica eficaz para essas situações, utilizando uma abordagem que ainda não havia sido explorada nesse contexto.”

Resultados promissores

Roni Hahn destacou a importância do avanço: “A terapia gênica vem se consolidando nos últimos anos como uma alternativa poderosa e já está sendo aplicada em diferentes condições genéticas, como a atrofia muscular espinhal e a amaurose congênita de Leber, além de terapias imunológicas contra o câncer, como o CAR-T.”

“Um dos métodos consiste em empregar vetores virais modificados, nos quais o DNA nativo é substituído pela versão funcional do gene de interesse. Esses vetores aproveitam a capacidade natural dos vírus de penetrar nas células para corrigir o defeito genético e restabelecer a função normal”.

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No resumo dos achados, Karen concluiu: “Neste estudo, aplicamos uma estratégia inovadora para tratar a perda auditiva de origem genética e verificamos que ela melhora a eficácia terapêutica, além de abordar simultaneamente deficiências de audição e de equilíbrio”, explica a professora.

“Acreditamos que esses resultados possam abrir caminho para o desenvolvimento de terapias gênicas capazes de tratar uma ampla variedade de distúrbios auditivos de base genética.”

A terapia gênica com AAV, observa Karen, já está sendo usada em ensaios clínicos para um gene chamado otoferlina, nos Estados Unidos, China, França e Reino Unido.

“Os resultados até agora são promissores, sugerindo que essa abordagem poderá se tornar rotineira no futuro.”
Para os demais genes responsáveis pela perda auditiva, ainda levará tempo, completa a especialista.

“Universidades, centros de pesquisa e empresas continuam trabalhando para implementar a terapia gênica com AAV em outros genes, incluindo o GJB2 [também conhecido como conexina 26], a forma mais comum de surdez genética.”

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