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Ciência e Tecnologia

Universidade de Tel Aviv: quando o olhar revela a memória

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Daniel Yamin e Flavio Jean Schmidig Universidade Tel Aviv
Daniel Yamin e Flavio Jean Schmidig comandaram o estudo da Universidade de Tel Aviv | Foto: Divulgação/Universidade de Tel Aviv

Trabalho também abre possibilidade de alcançar lembranças não declaradas

Por Eugenio Goussinsky

Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv comprovaram que é possível identificar lembranças apenas com a observação do movimento dos olhos. No experimento, 145 voluntários assistiram a curtas de animação com pequenas surpresas, como um rato que saltava subitamente no canto da tela.

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Quando os vídeos foram exibidos pela segunda vez, os participantes direcionaram o olhar exatamente para o ponto onde o evento inesperado ocorreria, mesmo os que afirmaram não se lembrar da cena.

A comparação entre os relatos verbais e os registros visuais mostrou que o olhar é um indicador mais preciso da memória do que a própria fala.

“Nossa abordagem é independente da linguagem”, diz ao Portal E21 o doutor Flavio Jean Schmidig, um dos que desenvolveram o método. “Além disso, não é necessário compreender o conceito de memória. Portanto, ela pode ser particularmente útil em casos em que as habilidades linguísticas possam atuar como fator de confusão ou barreira.” (Abaixo, link de Memory, com Barbra Streisand).

Além de Schmidig, participaram do desenvolvimento os doutores Daniel Yamin, Omer Sharon e o professor Yuval Nir, da Universidade de Tel Aviv e do Centro Médico Sourasky (Ichilov). O artigo foi publicado na revista Communications Psychology. A pesquisa envolveu ainda o Instituto Sagol de Neurociência e as Faculdades Gray e Fleischman, das áreas médica e de engenharia.

O procedimento é simples: os voluntários assistem aos vídeos enquanto câmeras rastreiam os movimentos oculares. Com o uso de algoritmos de aprendizado de máquina, os pesquisadores conseguem determinar automaticamente, a partir de poucos segundos de gravação, se a pessoa formou ou não uma lembrança.

“Quando pergunto se você se lembra, posso ouvir respostas como sim, não ou talvez”, afirmou Sharon. “Mas quando o olhar se move para o lado quase de forma inconsciente, conseguimos captar nuances mais sutis da memória.”

Daniel Yamin ressaltou:

“O estudo comprova que o rastreamento ocular pode substituir perguntas diretas como ‘você se lembra disso?'”. “Demonstramos que o movimento dos olhos é uma medida extremamente sensível. Mesmo quando o sujeito diz não se lembrar, seu olhar revela o contrário.”

A abordagem rompe com o modelo tradicional de testes, que dependem de respostas verbais. “Normalmente, a memória é avaliada por meio de perguntas diretas, em que o participante precisa dizer se reconhece determinado evento”, explicou Schmidig. “Isso, porém, é inviável em animais, bebês, pacientes com Alzheimer avançado ou pessoas com lesões cerebrais que perderam a capacidade de falar. Nosso objetivo foi medir a memória de forma espontânea, sem precisar pedir que a pessoa tente se lembrar.”

O fato de o estudo permitir observar a memória em populações que não conseguem falar ou têm dificuldades na fala, como bebês e pacientes com Alzheimer, conforme já citou Schmidig é uma descoberta importante.

“Essa ferramenta abre novas possibilidades na prevenção do Alzheimer, na reabilitação pós-AVC e na pesquisa básica sobre memória”, ressalta Schmidig. “Como adultos mais velhos frequentemente apresentam fluência verbal reduzida, uma ferramenta independente da linguagem pode ser mais adequada para distinguir o comprometimento cognitivo leve (um estágio inicial do Alzheimer) de déficits relacionados à linguagem.”

Carga emocional

Para Nir, que supervisionou o estudo, a descoberta tem impacto direto em situações clínicas. “Os resultados são especialmente relevantes quando não é possível obter respostas verbais. Acreditamos que, no futuro, a técnica poderá ser usada para avaliar a memória de recém-nascidos, pacientes com Alzheimer ou vítimas de traumatismo craniano com fala comprometida.”

Nir destaca que o rastreamento pode ser feito com equipamentos simples, inclusive pela câmera de um laptop ou celular. “Essa metodologia pode permitir a identificação de lembranças em contextos que antes eram inacessíveis à ciência e à medicina.” (Abaixo, link de In Your Eyes, com George Benson).

Schmidig, porém, ressalta que este tipo de observação não é suficiente para obter níveis de memória mais complexos ou sutis.

“O escopo deste trabalho concentra-se em distinguir conteúdos lembrados e não lembrados em adultos saudáveis, sob condições controladas”, diz ele. “Embora o olhar forneça informações temporais e espaciais ricas sobre a expressão da memória, ele ainda não capta toda a nuance da qualidade da lembrança [por exemplo, sua carga emocional].”

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Há intenção de avançar ainda mais nos estudos, acrescenta Schmidig. Segundo ele, o desenvolvimento futuro pode envolver a combinação de medidas baseadas no olhar com outros sinais fisiológicos ou neurais, como EEG (registro elétrico da atividade cerebral), dinâmica pupilar (variações no diâmetro da pupila) ou fMRI imagem cerebral mostrando áreas ativas) e a aplicação dessa abordagem em contextos mais clínicos.

“Isso permitiria uma compreensão mais detalhada de como diferentes processos de memória se manifestam além dos relatos verbais e, em última análise, poderia oferecer uma ferramenta clínica escalável para populações incapazes de se comunicar verbalmente.”

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