Ciência e Tecnologia
Palestina e israelense mantêm startup em meio à guerra
Como sócios, eles superam adversidades e têm conseguido crescer com um objetivo em comum
Eugenio Goussinsky
Enquanto Israel e palestinos vivem a guerra, uma startup israelense tem prosperado com a parceria entre a palestina e muçulmana Enas Awwad com o israelense e judeu Tal Givati.
Fundada em 2022, a NoledgeLoss resolve problemas de perda de dados empresariais mesmo quando funcionários mudam de emprego. A união pode até parecer utópica. Mas é real. E, ainda que aponte para um caminho de paz, gera resistências. Não é fácil semear a união em meio ao hábito de alimentar a hostilidade.
“Minha opção foi ficar com aqueles que incentivam e apoiam”, diz Enas, ao Portal E21.
Aos 32 anos, Enas havia se formado em Engenharia, mas buscava inserção no mercado. Inscreveu-se no Programa de Estágios Palestinos (PIP), que partilha a experiência israelense e proporciona oportunidades a jovens da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Leia mais: Inovação para a paz: evento mostra como startups resistiram depois de 7 de outubro
Em um dos processos de desenvolvimento de produto, conheceu Tal Givati, 32 anos, e ambos partilharam os mesmos ideais de criar uma empresa que desse valor ao conhecimento e à expertise acumulada por um profissional em sua trajetória.
“O local, na verdade ficava a 30 minutos da minha casa”, observa Enas, sobre a distância entre dois “mundos” distintos, Tulkarem, onde ela mora e Herzlia, onde participou do programa e fundou sua empresa. Ela estudou nos Estados Unidos, mas precisava de mais oportunidades.
A parceria com Tal se consolidou. Nascido em Tel-Aviv, ele também participava do programa.
“Lá você tem a oportunidade de construir um startup juntos, e no final nós temos uma competição”, contou ele ao Portal E21. “Você pode criar um fundo, um pequeno fundo, mas com esse dinheiro você pode começar sua própria startup.”
Apesar das origens diferentes, ele diz que pôde perceber a sinergia entre ambos desde o primeiro contato.
“Nós nos conhecemos nesse programa. Nós dois estamos vindo de área em comum de engenharia, e nós vivenciamos um problema crítico, o problema da perda de conhecimento na organização. Então, em uma manhã, acho que foi dois dias depois do início programa, Enas vem para a máquina de café, ela pareceu super desgastada e percebi que ela estava em busca de uma solução, de um sentido.”
Ambos então começam a conversar e a se entender sobre um objetivo em comum.
“Ela me pediu licença para pegar o café e em seguida disse que estava ansiosa para encontrar uma solução para manter arquivado o conhecimento dos funcionários em uma empresa.”
Então, Tal conta que também revelou ter ideia semelhante a respeito. Enas lhe propôs uma parceria.
“Você toparia trabalhar junto comigo neste projeto?” Esta foi a pergunta direta da jovem palestina ao engenheiro judeu. “Porque se funciona, eu vou poder dormir mais à noite”, brincou.
Tal, completa: “E nós dois olhamos um para o outro e dissemos, vamos começar.”
Eles já receberam uma rodada de investimentos da Techstars e têm crescido, mesmo com a ocorrência do 7 de outubro.
Possibilidade de trocas
Enas conta que, ao contrário do que se propaga, há possibilidades abertas para a troca de conhecimento entre israelenses e palestinos.
“Todos os dias há 170 mil trabalhadores entrando e saindo de Israel e isso é uma realidade”, destaca a empreendedora. “Foi assim que eu passei a trabalhar em Israel”, ressalta Enas. “Então, trabalhamos juntos na construção de algo e, mesmo sendo difícil, sincronizamos nossos desafios. E o primeiro deles foi alcançar as pessoas, independentemente de onde venham.”
Eles não têm ficado muito perto um do outro, depois do 7 de outubro, em função da logística. Agora, ambos foram morar em Londres, também em função da maior facilidade de conduzirem o negócio neste momento.
A raiz, porém, está plantada em Israel. E eles querem aproveitar essa oportunidade para expandir ainda mais a startup para a atuação em outras nações.
Puderam se reencontrar também em São Paulo, quando participaram do evento Inovação Para a Paz, realizado no teatro B32, no dia 2 de junho, pelos Amigos Brasileiros da Universidade Hebraica de Jerusalém.
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“Depois do 7 de outubro, nós enfrentamos dificuldades para encontrar caminhos de mantermos essa empresa”, revela Enas ao portal. “Você não pode ir para o outro lado, na região, e nós nos mudamos para Londres, em fevereiro. Mas não pudemos nos encontrar muito.”
Muitos dos trabalhos têm sido a distância neste momento, acrescenta Enas.
“Conseguimos trabalhar remotamente, mesmo com adversidades, pois perdemos clientes e temos de convencer os outros de que tudo está caminhando. Mas, como fundadores, definimos que iremos lutar juntos por esse objetivo.”
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