Destaque
Seleção brasileira sempre venceu com a presença de grandes laterais
Aquele setor, no futebol brasileiro, sempre foi terra fértil para o desenvolvimento de craques
Por Eugenio Goussinsky
Os conflitos e as soluções nascem nas linhas divisórias. Muitas delas, consensos depois de anos, séculos de transições gradativas. E surgem as fronteiras que diferenciam culturas.
Há as simbólicas que se movem de forma oculta e transformam a noite em dia. Desvendando a linha divisória do horizonte até então envolvido na escuridão.
Há ainda a linha divisória no gramado de futebol, a qual, ultrapassada com um único passo, se adentra no território sagrado do campo. O primeiro a ser visto ali, tanto da esquerda quanto da direita, costuma ser o lateral.
Aquela região, no futebol brasileiro, sempre foi terra fértil para o desenvolvimento de craques. O desafio era grande.
Naquele corredor fino, teriam de atacar, defender e criar. Muita coisa para pouco espaço. Juarez Soares mesmo disse um dia que colocar Cafu, veloz e dinâmico, naquela função era como guardar um raio de luz em uma caixa de fósforos.
Entendo o que o grande comentarista quis dizer na ocasião. No entanto, se pensarmos que a luz pode tornar fundamental aquele setor, poderemos valorizá-la ali mesmo. Como sempre fizemos. Foi isso que ocorreu em toda a história do futebol brasileiro. Pelo menos até alguns anos atrás.
Todas as seleções brasileiras campeãs tinham nas laterais uma das suas maiores forças. Verdadeiros alicerces. Em 58, quando as maiores conquistas começaram, jogavam por lá De Sordi, Djalma Santos, Nilton Santos e Oreco. Laterais experientes e técnicos, craques com a bola nos pés.
E assim sucessivamente. Os “Santos”, Djalma e Nilton se mantiveram em 62. Depois, em 1970, Carlos Alberto, com uma visão impressionante e passadas largas, foi o capitão do time. Na esquerda, Everaldo, excelente marcador e tranquilo para sair jogando.
Depois vieram Nelinho, Marinho Chagas, Wladimir, Marco Antônio, Zé Maria (esses dois também em 70), Cláudio Duarte, Perivaldo, Josimar, Édson, Pedrinho, Mazinho, Marcelo, Leandro e Júnior, esses dois verdadeiros craques na seleção de 1982.
Jorginho, Branco e Leonardo tinham técnica e visão de jogo acima da média e por isso contribuíram com a conquista do tetra.
Cafu e Roberto Carlos, com enorme vigor físico, mas também inteligentes, foram outros dois laterais fundamentais em conquistas brasileiras, como a do penta.
Fundamentais em vários aspectos
Muitos dizem que a espinha dorsal de um time é formada pelos zagueiros, o volante, um meia e o atacante.
Começo a achar que não é bem assim. Uma equipe com laterais eficientes e técnicos tem uma vantagem sobre o adversário.
Eles servem de suporte para o meio-campo, ajudando, quando criativos, na armação. E ainda são fundamentais na saída de bola, no apoio ao ataque e na marcação inteligente, com bom posicionamento e parando na frente dos atacantes habilidosos.
Ser um bom lateral também é uma arte, que está faltando ser valorizada no atual futebol brasileiro.
Muitos laterais têm sido preparados apenas na parte física, visando à maior explosão. Isso tem produzido jogadores da posição sem a técnica e a habilidade suficientes para ajudar na criação das jogadas.
O que torna o meio-campo burocrático e pouco criativo. E deixa o time fragmentado, sem conjunto. Como se faltasse algo.
A seleção brasileira atual tem claramente sofrido com esse desequilíbrio.
Nas últimas derrotas para Uruguai, Colômbia e Argentina, isso ficou claro. Faltou força ofensiva no setor, assim como marcação eficiente.
E nem o meio-campo foi beneficiado com alguma inversão, para que o lateral surgisse como um bom armador.
Não adianta só ficar por lá, se digladiando com o adversário para ver quem fica com a cobrança da lateral.
A seleção brasileira está sem ideias e estas sempre surgiram das laterais.
Assim como a velha frase em que, para vencer, é preciso “começar pelas beiradas.”
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