Ciência e Tecnologia
Sustentabilidade pelo mar

Pesquisadora do Instituto Weizmann conta ao Portal E21 como foi adquirindo conhecimento até buscar compreender “conversas” entre algas e bactérias no oceana, que influenciam a vida no planeta
Por Eugenio Goussinsky
A principal novidade do trabalho da professora Einat Segev, do Instituto Weizmann, de Israel, está em compreender como bactérias marinhas se comunicam com microalgas por meio de sinais químicos. Formam verdadeiras “linguagens microbianas”. O tema a foi intrigando enquanto ela avançava em sua formação.
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“Eu me formei tanto como geóloga quanto como bióloga”, explica a pesquisadora ao Portal E21. “Minha segunda graduação foi em geoquímica. E é aqui que eu comecei a entender que a interface entre a química e os microrganismos é algo que não entendemos completamente. Isso foi no início da minha formação.”
O doutorado, quando ela se tornou uma microbiologista em uma escola de medicina, a fez aprender a trabalhar com bactérias, genética e biologia molecular. No pós-doutorado, todas as áreas de sua formação conversaram entre si. E a levaram, em paralelo, a ter condições de compreender a “conversa” entre as algas e as bactérias no mar.
“Meu passado na geologia e na geoquímica e minha paixão pela microbiologia no ambiente marinho se uniram”, prossegue ela. “E eu tinha que pensar: o que eu realmente queria fazer? O que eu queria estudar a fundo? E havia uma pergunta muito grande naquela época sobre comunicação química no oceano.”
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A pesquisadora então se aprofundou na descoberta de como os microrganismos marinhos se comunicam uns com os outros.
“Eu me perguntava: será que eles fazem mesmo isso?” Em Harvard, Einat teve liberdade para buscar as respostas, ainda perdidas em um oceano.
“Comecei a estabelecer um sistema experimental onde eu cultivava algas e bactérias juntas e descobri que elas podem, de fato, ‘conversar’ umas com as outras, e que as bactérias podem produzir hormônios de crescimento que alteram o padrão de crescimento das algas. Então, é aqui que meu interesse em micróbios no oceano realmente se consolidou.”
Conhecer essa relação revela muito sobre a história e a vida no planeta. A Terra, neste sentido, fala e respira pelo mar. É de lá que surgem os segredos sobre como as bactérias funcionam e se relacionam entre si, revelando modos pouco conhecidos de sobrevivência, crescimento e comunicação.
Einat estuda tanto os processos internos dessas bactérias (como elas respiram, se alimentam e produzem energia) quanto as formas diferentes com que transformam nutrientes em energia — capacidades metabólicas ainda pouco exploradas fora do laboratório.
No caso das bactérias estudadas por ela, elas soltam essas moléculas no ambiente marinho. As microalgas “sentem” esses sinais e respondem — como se estivessem interpretando uma mensagem. Isso pode influenciar o crescimento, comportamento ou até a cooperação entre elas.
E influenciam, inclusive, a saúde humana.
“É hora de entendermos que não podemos realmente traçar uma linha divisória nítida entre diferentes sistemas”, observa a pesquisadora, que diz ter encontrado no Instituto Weizmann o local ideal para unir todos os aspectos de sua pesquisa: a geologia, a geoquímica, a biologia molecular, entre outros.
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“Nós agora entendemos que tudo impacta tudo, e eventualmente, nós também somos impactados pelas mudanças no nosso ambiente. Então, quando nós estudamos temas ambientais, mesmo que não esteja imediatamente claro no começo como isso vai ser diretamente benéfico para os seres humanos ou como isso vai nos impactar diretamente, tudo está interconectado.”
Como exemplo, ela cita um estudo, em que sua equipe está focada agora, publicado recentemente.
“Estamos estudando o processo de agregação, de aglomeração de algas e bactérias”, revela Einat. “Em certos lugares do mundo, esse processo se torna, às vezes, fora de controle. Eu acho, especialmente na América Latina, que as pessoas estão familiarizadas com as ‘marés vermelhas’, ou florações de algas nocivas.”
O mar e a saúde humana
Tal situação ilustra como o que ocorre no mar está interligado à vida fora dele, nas matas, na praia e até nas cidades embrutecidas e ensimesmadas.
“Estes são grandes eventos de uma grande quantidade de algas e bactérias se juntando, e isso cria uma camada densa na superfície da água, que é realmente prejudicial para o ecossistema marinho e para a saúde humana”, afirma a especialista.
“Agora, nós estamos estudando isso porque queremos entender os mecanismos moleculares, os processos bioquímicos que levam a essa agregação. Mas, realmente, se nós pudermos entender esses mecanismos e encontrar soluções para controlar ou mitigar essas florações, podemos talvez salvar as comunidades costeiras que dependem da pesca, o turismo que acontece nessas áreas.”
Ela conclui.
“Então, mesmo que o nosso foco inicial seja muito ambiental, muita ciência básica sobre interações microbianas marinhas, o impacto final pode ser significativo para a sociedade humana.”
Tal processo compreendido, logicamente, é por si só um dos maiores exemplos de como o mar é responsável por grande parte da sustentabilidade do planeta.
“Absolutamente, isso é fundamentalmente sobre sustentabilidade”, destaca Einat. “Para encontrar soluções para problemas ecológicos, para sermos melhores em lidar com ecossistemas complexos, em tratar problemas ambientais que afetam a todos, isso tudo se enquadra no conceito de sustentabilidade.”
A vida, portanto, é feita de diálogos. É a velha máxima de que, quando uma borboleta alça voo de um lado do planeta, pode gerar um furacão de outro. O mesmo pode valer para as conversas nas profundezas do mar, com seres ínfimos que podem ter uma influência gigantesca.
É como se uma bactéria dissesse para a alga: “Oi, estou aqui e preciso de nutrientes”, e a alga entendesse o recado e reagisse de alguma forma. Nós, sem saber, dependemos deste diálogo.
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